terça-feira, 26 de setembro de 2017

Tema atemporal

 Infelizmente, mesmo escrito já há tanto tempo, este livro ainda permanece pertinente e cabível na nossa realidade. Então, nesta ausência total de verdadeiros ícones que possamos chamar de modelos, em meio a um devastador lixo musical que todos os dias emerge, poluindo os nossos sentidos, vamos caminhando com a tenebrosa sensação de que tudo ainda pode piorar, já que a mudança de certos paradigmas, exige um mínimo de conhecimento popular, que sabemos não existir.
   Desprovidos de uma resistência intelectual capaz de argumentar e exigir mudanças substanciais, aceitando pequenos favores em troca de silêncio e votos, somos uma nação muitíssimo diferenciada daquela dos anos de 1960, em que imperavam o bom gosto, o senso e o juízo de valor, um imenso prezar pelos princípios e pela cultura, a valorização da ética e o repúdio pela corrupção.
   Enquanto isso, os copos vão tilintando em brindes de confusão e vergonha... sim... pois nos finais de tarde, todos bebem juntos, sem distinção de títulos ou instituições...

                                                                                   guardiadelendas.blogspot.com
                                                                                Célia Motta                           


quarta-feira, 20 de setembro de 2017

"Poeira do Tempo"

          Estudantes da nossa região rural. Sentado, da esquerda para a direita, vestido de branco com o
          chapéu na mão, o garotinho Julio Lourenço da Silva. Meados dos anos de 1920.

ONTEM DE MANHÃ, PEGANDO UMA DAS PASTAS DE DOCUMENTOS E FOTOS ANTIGAS DO DISTRITO DE ALFREDO GUEDES, DEI-ME  CONTA DE ALGUMAS COISAS...
QUANDO SENTI O TOQUE ÁSPERO DA POEIRA QUE ALI CAÍRA, ALGO DESPONTOU DE DENTRO DE MIM: POEIRA DO SAGRADO.
POEIRA DE UM TEMPO DISTANTE QUE TEIMA EM REGRESSAR COM SUAS MEMÓRIAS. PRESENÇAS E VOZES, SUSPIROS E RESPIRAÇÕES ALI E AQUI, CAMINHARES EM PASSOS LENTOS... ENTRANDO PELOS PORTAIS EM CHORO SAUDOSO E TERNO. ETERNO SENTIR!
EMOCIONO-ME, AGRADEÇO E LHES OFEREÇO O ABRIGO DE SUAS HISTÓRIAS, AQUI CONTADAS, CONFORTO DAS ALMAS.
DEI-ME CONTA DO QUANTO ESTE TRABALHO JUSTIFICA-SE POR SI MESMO.
SAIAS E PALETÓS SACUDINDO A POEIRA DE SEUS CAMINHARES POR LONGAS ESTRADAS DE REFAZIMENTO: DESTINO!
MÃOS SUADAS EM BUSCA DE DESEJOS ANTIGOS: AMORES!
CICATRIZES SENDO CURADAS: REDENÇÃO!
SUBMISSÃO ÀS PRÓPRIAS VONTADES: PERDÃO!
DORES E MÁGOAS SUPERADAS, ALMAS REAVIVADAS, PROVAÇÃO!
E RECEBO CADA UM DELES COM A REVERÊNCIA DE QUEM ESTÁ FRENTE A FRENTE COM A PREDESTINADA MISSÃO.
REGRESSEM, ABRACEM, FLUTUEM NO ABSTRATO E SURREAL MUNDO DAS MEMÓRIAS. AJUDEM-ME A CONDUZIR OS TRABALHOS COM A DIGNIDADE, A SERIEDADE E O RESPEITO QUE EM MIM DESPERTAM!
RENOVAÇÃO!
SOLUÇOS, ESPASMOS, RISOS SOLTOS NA IMENSIDÃO... CONDUZAM-ME!
RENASCIMENTO!
SUORES NOTURNOS, CÁLIDAS RECORDAÇÕES, LAMPEJOS DO PASSADO, SERES NOTURNOS, SENTINELAS DA NOITE... ABENÇOEM-ME!
REVOLTAS EXTINTAS, MEDOS TRANSFORMADOS, CORAGEM MANSA, BATALHA DO BOM COMBATE, ESPADA DE MIGUEL, ASAS DE ANJO, PODER DO ALTO... FORTALEÇAM-ME!
ALGUNS OLHARES ESPREITAM-ME, ALGUNS OLHARES FICAM COMIGO A VAGAR FRENTE A FRENTE... RECONHECEM-ME COMO PARTE INTEGRANTE DE SUA CASA! DIVIDEM COMIGO UM LUGAR EM SUA MESA! VINHO DA VIDA! PÃO DE COMUNHÃO ENTRE OS TEMPOS! 
SINTO GRATIDÃO E ALEGRO-ME.
SUAS ROUPAS LEVAM SEU CHEIRO DE SEMPRE. OS TECIDOS SE ROMPEM, ENVELHECERAM AS SUAS ROUPAS, MAS SEUS SEMBLANTES BRILHAM.
RASGO-ME TAMBÉM! ESCANCARO-ME POR DENTRO. UNIÃO!
BEIJO SUAS MÃOS E INCLINO-ME A TODOS ELES. SINTO-ME ENVOLVIDA POR MULHERES MÍSTICAS. SEUS CABELOS ME POSSUEM NUM ENFEITIÇADO MOMENTO QUE CARREGO PELAS NOITES ADENTRO.  A ALVURA DA SUA PELE ME DIZ PRA TER CALMA. MINHA ALMA A RECEBERÁ POR TODO O SEMPRE.
E O TEMPO CONVERSA COMIGO. VULTOS NO ESPAÇO A BAILAR. FLUTUO. MINHA CABEÇA GIRA!
MAGIA!
LEMBRAM A MINHA SINA: GARIMPAR... GARIMPAR...



                                                                                                                         
                                                                                                     guardiadelendas.blogspot.com
                                                                                                     Célia Motta.

quinta-feira, 14 de setembro de 2017

VISITEM ALFREDO GUEDES

(Senhor Lindolfo Pinheiro de Freitas e sua senhora, Dona Amália)
Fazenda Boa Vista.

VENHAM CONHECER DE PERTO, OS PROTAGONISTAS DAS NARRATIVAS CONTADAS AQUI NA Alfredo Guedes Guardiã De Lendas!  VENHAM SENTIR A ATMOSFERA MÁGICA, QUE SOMENTE ALFREDO GUEDES EXALA NA VELHA ESTAÇÃO DE TREM EM RUÍNAS, NAS CONSTRUÇÕES ANTIGAS, NOS TELHADOS QUE SE VESTEM DE SOL, NO MEMORIAL QUE NOS SUSSURRA SEGREDOS ANTIGOS, NA VELHA PONTE DO RIO LENÇÓIS QUE INSISTE EM REVELAR OS MISTÉRIOS DAS ÁGUAS.
O MEMORIAL ESTÁ MAIS VIVO DO QUE NUNCA, E AS MEMÓRIAS AINDA PRESENTES A DANÇAR PELA CASA AZUL, NOS CONVIDANDO AO RESGATE.
E SE PUDEREM FICAR ATÉ O ANOITECER, PARA APRECIAR A LUA NO SILÊNCIO DA ESCADARIA DA IGREJA DO BOM JESUS, PASSARÃO A ACREDITAR EM FADAS E DUENDES QUE HABITAM A NOSSA PRAÇA E FALAM COM A NOSSA ALMA, CONTAGIAM O NOSSO CORAÇÃO, RESGATAM NOSSAS LENDAS, CANTAM MARCHINHAS DAS VELHAS BANDAS QUE TOCAVAM EM NOSSO CORETO. REVELAM AS ANTIGAS CONVERSAS OCORRIDAS NOS NOSSOS BANCOS EM NOITES DE VERÃO. SOPRAM SONS DO ALTO FALANTE, EM CANÇÕES JÁ NÃO MAIS OUVIDAS, QUE AGORA VIVEM EM ECOS OCULTOS QUE AINDA BROTAM NO TEMPO “Dominique nique nique sempre alegre...”, “Non Ho L’età, per amarti...”, “Dio, come ti amo”... CANÇÕES ATEMPORAIS!

                       Igreja do Bom Jesus de Alfredo Guedes / vista parcial do nosso coreto.

 SE FICAREM SOB A CAPELA DE SÃO BENEDITO ATÉ ALTAS HORAS, VIAJARÃO NO FEITIÇO DOS ANTIGOS SUSSURROS APAIXONADOS, DOS LAMENTOS DA LINDA E AMÁVEL NOIVA A PROCURAR O SEU PROMETIDO. VERÃO COM O CORAÇÃO, A VAPOROSA E LONGA CAUDA DO BRANCO VESTIDO A DESLIZAR ATÉ A VASTIDÃO DE ÁRVORES OCULTAS NA ESCURIDÃO DO VELHO POMAR AO FUNDO.
 E SABERÃO QUE LÁ, ELA AJOELHA-SE E REGA SEUS DESEJOS HÁ TEMPOS ENTERRADOS, COM SUAS LÁGRIMAS DE ESPERANÇA! ESPERA INCANSAVELMENTE QUE BROTEM DA TERRA QUE FORA DELA UM DIA. SABERÃO QUE O TEMPO PAROU PARA QUE O VIÇO DE SUA BELEZA NÃO PASSASSE, PARA QUE A PELE NÃO PERDESSE A ALVURA SENSUAL DOS DIAS DE PAIXÃO.


SABERÃO QUE ELA CONHECE CADA PALMO DE NOSSOS PARALELEPÍPEDOS VIVENDO SUA SAGRADA BUSCA. SENTIRÃO O FLUTUAR DE FARTOS E LONGOS CABELOS NEGROS A REFLETIR ESTRELAS E EXALAR DAMAS DA NOITE.
 SENTIRÃO O DISTRITO EM SUA ESSÊNCIA, E SENTIRÃO O DR. ALFREDO GUEDES, VIAJANTE DOS VENTOS, EM CADA UM DOS APITOS DO TREM. OUVIRÃO O BATER DE SUA BENGALA EM NOSSAS RUAS, E O FARFALHAR DE SUA CASACA NEGRA AO VENTO.


VENHAM CONHECER OS CAMINHOS DE "CAUSOS" E LENDAS, AS CANTIGAS INFANTIS QUE NASCEM NAS PROFUNDEZAS DO TUNEL DO CATETO, OS CAMINHOS QUE LEVAM ÀS FAZENDAS! AS MATAS QUE ABRIGAM OS NOSSOS TRILHOS.
VERÃO QUE NOSSAS ASSOMBRAÇÕES SÃO MEMÓRIAS VIVAS E POÉTICAS, A BAILAR PELAS ALAMEDAS DOS TEMPOS E DOS ESPAÇOS.

                       Tunel do Cateto (entre outros, parte da família Ferraz Bueno).                                                                                          
                                                                                          guardiadelendas.blogspot.com
                                                             Célia Motta

quarta-feira, 6 de setembro de 2017

Prestando contas às famílias antigas, tradicionalmente "Guedenses"

                                                  (Queridíssima e respeitada, Família Turcarelli)

Naquilo que se refere a Alfredo Guedes, bem como ao impasse gerado pela discussão sobre a possibilidade do asfaltamento ou preservação dos paralelepípedos nas ruas guedenses, minha preocupação cresceu absurdamente com o advento da pesquisa popular, aqui realizada no dia 26 de março do corrente ano.

Ocorre que tudo o que vejo e ouço acerca do assunto, não se vincula à defesa da história e à proteção da memória, que poderia ser ampla e sabiamente explorada. A argumentação favorável ao asfalto apresenta-se carregada de falas que apontam a possibilidade remota de acidentes e derrapagens, desgaste de veículos, busca da modernidade, dificuldade de caminhar, (aqui faço necessariamente duas observações: não possuímos movimento considerável de veículo trafegando; e cá pra nós, pedestre caminha em calçadas!) e por aí segue o rol de “fúteis prioridades”.






Falas que denotam imaturidade brutal acerca do tema. Em tempo algum se discute o valor histórico de cada pedra. Penso que tal atitude, reflita em muito, a falta de amadurecimento e esclarecimento do assunto. Ausência absoluta de qualquer juízo de valor. Talvez seja este o fator que mais necessite da apreciação do olhar técnico e imparcial da promotoria, para evitar decisões desastrosas, como a perda considerável do potencial histórico e o afloramento de futuras e inevitáveis lamentações sobre o fato, como já observamos nos dias de hoje, sobre o desaparecimento da mobília de época da nossa escola, a derrubada criminosa das antigas árvores da Praça do Bom Jesus e  de seus postes de iluminação originais, a mudança do nome da escola, aliás, ilustríssimo nome da inigualável Professora Cecília Marins Bosi.
Para cada perda de contexto histórico ou do acervo de memórias, ainda que pareça pequeno o impacto, cria-se uma lacuna sem fundo, intransponível e irrecuperável. Descortina-se a cada passo dado em direção errada, uma descaracterização extremamente comprometedora da essência e originalidade do local.


Contrariando a minha argumentação, percebe-se uma excessiva e estranha preocupação, quer seja do Executivo, quer seja do Legislativo, em satisfazer a vontade popular demonstrada na pesquisa, mesmo estando tal vontade, poluída por vícios de entendimento, esclarecimento e interpretação; como se vê claramente demonstrado nos comentários das redes sociais. É absolutamente inadmissível que a vontade popular suprima a história e o seu valor inestimável. É absolutamente gritante que o assunto seja levianamente tratado, como se divergíssemos sobre a inclusão ou não de mero benefício local, sem consequentes e lastimáveis perdas. Houve sim, evidente e ultrajante distorção do tema, que deveria ser, desde o início, unicamente a história, principalmente pela fragilidade e a complexidade advindas do fato de não haver nenhum pedido de tombamento no passado, expondo o patrimônio histórico ao risco iminente de desaparecer, pela falta do procedimento burocrático necessário ao tombamento.
É exclusivamente em razão da fragilidade à qual está exposta a historicidade local, que retorno e reforço o tema.


Em relação à pesquisa popular, a meu ver desnecessária, pois se trata de ato administrativo, devo ressaltar que dentre a maioria questionada, é mais do que considerável o número de pessoas que não são nativas do lugar e não possuem ascendência “guedense” ou “lençoense”.  A história pessoal e contextual desta maioria pertence a outros polos urbanos, bem como as suas raízes e antepassados, que certamente lhes são caros, estão assegurados em seus lugares de origem . É mais do que natural que não se detenham num resguardo daquilo que para nós é tesouro sem precedentes, passível de gerar, através de intensa visitação, renda familiar local e recursos financeiros para o município. Encontramos então um interessante binômio: o Distrito de Alfredo Guedes hoje, é composto pela grande maioria que veio de outros lugares, do mesmo modo que as Famílias tradicionais de Alfredo Guedes, estão centralizadas em várias cidades da região, predominantemente em Lençóis Paulista. Trocando em miúdos, a pesquisa popular, restrita ao distrito (que por razões estranhas chamam de bairro ou vila) foi a ferramenta populista, escolhida para se lavar as mãos diante do dilema. 
Junte-se ao que foi aqui exposto, o fato de que o Distrito de Alfredo Guedes pertence a Lençóis Paulista, desde o decreto 6.753, de 06 de Outubro de 1934, quando foi anexado ao município, não se desvinculando até os dias de hoje.



O que mostra a necessidade de se ouvir todo o município e não somente a população local, já que a história e a memória se erguem de um profundo entrelaçamento de fatos e pessoas, inseridos num mesmo contexto, que ultrapassa em muito os nossos limites locais. Impossível falar de Alfredo Guedes sem falar de Lençóis Paulista, e vice e versa. De modo semelhante, a história de um, é e sempre será a história do outro.
Em recentes buscas, encontrei vários artigos favoráveis aos calçamentos com paralelepípedos, pela superioridade de redução dos efeitos nocivos ao meio ambiente, maior poder de absorção das águas, gerando um maior equilíbrio ecológico. Também é unânime, o posicionamento técnico, que versa sobre os perigos concernentes às construções já existentes, considerando as trincas resultantes da intensa  e frequente necessidade de reparo e manutenção, em pavimentos asfálticos.



Entendo que tais pronunciamentos sejam pertinentes a esta discussão, para um direcionamento correto de certas atitudes, das quais não será possível voltar atrás.
Mas, nada disso entra em pauta... e, por quais razões, eu me pergunto?
Sem mais para o momento,


guardiadelendas.blogspot.com
Célia Motta.

segunda-feira, 4 de setembro de 2017

"Estesia"

Gosto da beleza que quando olho, dentro de mim se rompe em aguda dor, de tão bonita.
Que aperta e sufoca o meu peito, fazendo represas em minha garganta, até o próximo respiro, esta dor tanta, que me levita.
Gosto da emoção que arde e queima os meus olhos, debulhando lágrimas em fogo santo.
Gosto das notas de piano que adentram os meus ouvidos, fazem furor em minha cabeça, me palpitam o pulso, e depois, ao longo do tempo, no compasso da melodia, vertem de meus poros, transformadas em sal que germina novos dias! Notas musicais em mil alquimias!
Gosto dos ventos que chegam de todas as direções, uns mansos, uns em trêmulo alvoroço, alguns perfumados, outros tantos cálidos e comportados. Mas, há entre eles, uns de indefiníveis cheiros antigos, que pronunciam palavras intraduzíveis e ocultas, que desconcertam e dançam em minha alma, que arrepiam por dentro de minha espinha, remetem ao incestuoso, ao pagão, ao herege, ao profano, acordando em minhas espirituais entranhas, a latente menina que dorme em meu ventre. Meu passado, minha magia, minha inafastável sina!
Gosto! Gosto! Gosto! Sinto... sinto... sinto...
Gosto da lua opaca no fim da tarde clara, anunciando a noite nefasta, profunda, longa e escura... breu sagrado.
E chegam novos ventos.Ventos! E com eles trazem enfeitiçados perfumes das damas da noite. Às vezes sou eu, a dama.
Às vezes a dama é a lua.
Às vezes pertenço ao vento, e ele me carrega em rompantes velozes e violentos.
Às vezes sou tua. Nua. Crua.
Gosto!
                                                     
                                                                                            guardiadelendas.blogspot.com
                                                                                            Célia Motta.




                                                                                                         guardiadelendas.blogspot.com
                                                                                                         Célia Motta.