quarta-feira, 27 de dezembro de 2017

"Família Giorgetti e Turcarelli"

    Os irmãos Mara e Maurício, filhos de Candinho Giorgetti e Maria Turcarelli



AI QUE DEVANEIO PODER ESCREVER SOBRE ESSES QUERIDOS NESTE EXATO MOMENTO! OS IRMÃOS MARA E MAURÍCIO!
 IMPOSSÍVEL NÃO ULTRAPASSAR OS PORTAIS DO TEMPO E NÃO VÊ-LOS CHEGANDO NA MISTERIOSA ALFREDO GUEDES, PELAS VIVAS ESTRADAS DE PARANHOS, JUNTO DE SEU PAI, CANDINHO GIORGETTI, ÀS VEZES DE FUSCA E OUTRAS DE VARIANT BEGE, QUE COINCIDENTEMENTE, FORA COMPRADA DE MEU AVÔ, JOSÉ LOURENÇO. ENGRENAGENS DO TEMPO MESTRE.
 NOS RASTROS DE POEIRA E PÓ, MISTURANDO-SE ÀS NOSSAS TERRAS INTENSAMENTE VERMELHAS, IAM FICANDO OS RISOS INFANTIS, A ALGAZARRA DA FASE DE MENINOS COM BAGAGEM SURREAL... BAGAGEM DE SONHOS... REALIDADES IMORTAIS... VOZES BENDITAS!
 E NUM SÍTIO ENCANTADO, ENTRE O BARULHO DAS ÁGUAS DO RIO EM QUE BANHAVAM-SE OS IRMÃOS, ÀS ESCONDIDAS. ENTRE O CANTO DE PÁSSAROS QUE AINDA VISITAM O LUGAR. PRÓXIMO AO MÁGICO E CINEMATOGRÁFICO CENÁRIO DA LINDA PARANHOS... GUARDADOS POR INFINITAS E GIGANTESCAS SOMBRAS FRESCAS DE ARVOREDO... AH! ALÍ CONSTRUÍRAM SUAS MEMÓRIAS DANDO UMA BELÍSSIMA CONTINUIDADE ÀS PÁGINAS DAS ANTIGAS MEMÓRIAS VIVAS DE MARIA E CANDINHO, SEUS RESPEITÁVEIS E QUERIDÍSSIMOS PAIS. ETERNOS!
 DEIXANDO MARCAS PROFUNDAS NA ALMA DE PARANHOS E NOS SÍTIOS DAS REDONDEZAS... OUVE-SE AINDA GRITOS E RISADAS DOS MENINOS VOLTANDO DA ESCOLA DE PARANHOS... A FAZER FESTA EM DIAS DE RECREIO EM FRENTE À IGREJA... AMORES PELA PROFESSORA SAÍDA DOS CONTOS DE FADAS. BRIGAS INOCENTES, CADERNOS ESPALHADOS EM POÇAS DE MÁGICOS RESTOS DE CHUVA. ÁGUA FÉRTIL A MOLHAR MENINOS E MENINAS DESABROCHANDO EM FUTURO PLENO!
 E A MENINA DE APELIDO TRANSFIGURADO EM PEQUENO MIMO... SEMPRE JUNTO A ELES... DE APELIDO "PINGO"... MISTURA DE ÁGUAS SANTAS... AS GOTAS DE CHUVA E "PINGO”. RELUZENTES SOB O SOL QUE SEMPRE RETORNA...
 E ANTES DELES...
 QUANTA BELEZA E POESIA ANTES DELES...
 SIGAMOS CONTANDO...
SIGAMOS CONTANDO MAIS UM TANTINHO, SOBRE OS LAÇOS ENTRE OS GIORGETTI E OS TURCARELLI.
 MARIA... AMOROSÍSSIMA... MARIA TURCARELLI.
 SANGUE DE PAGINO E DONA LUCIA. QUANTO TEMPO JÁ FAZ!
 VOLTEMOS NÓS, ENTÃO, PELOS NOSSOS PORTAIS, NOSSAS PASSAGENS SECRETAS, QUE ABREM CAMINHO PARA O VELHO SÍTIO DE PAGINO, PAI DE MARIA.
 OS DIAS SÃO DE SOL E VERDES SÃO AS PAISAGENS NA PARTE ALTA, LOGO ACIMA DO RIO LENÇÓIS... LADEADOS PELA TRADICIONALÍSSIMA FAMÍLIA BOSO, E PELOS LENDÁRIOS, JULIO LOURENÇO E CLOTILDE PINHEIRO DE FREITAS.
 AS MATAS FECHADAS CONTORNANDO AS NOSSAS ABENÇOADAS ÁGUAS.  IMPONENTEMENTE VERDE!
 LÁ AO LONGE O "CATETINHO" FAZ PEQUENAS BORBULHAS SOB O TÚNEL DE PEDRAS...
 E A REALIDADE DE NOSSA AMOROSÍSSIMA E CATIVANTE MARIA ERA O SEU SÍTIO, SEUS PAIS E IRMÃOS... ROSA, MARIANA, CIDA... NÃO ME RECORDO DE TODOS... MAS OUÇO A MOENDA E A RODA A GIRAR... GIRAR... MOENDA DE SONHOS DA JOVEM MENINA GIRANDO ILUSÕES!
 MACHADOS ROMPEM MADEIRAS EM TRONCO E DISPERSAM SEUS SONS CORTADOS EM ECOS.
 A OLARIA MOLDA SEUS ARTEFATOS CONSTRUTORES DE LARES, PEQUENOS BLOCOS A FAZER HISTÓRIA NA NOSSA REGIÃO.
 E MARIA COMEÇA A SENTIR OS PRIMEIRO LAMPEJOS DE PAIXÃO EM SUA ALMA... SEU CORAÇÃO GRITA NO COMPASSO DE SEU PULSAR, E ELA SABIAMENTE, ATENDE AOS PEDIDOS DE SUA ALMA FEMININA.
 SUA SENSIBILIDADE JÁ NÃO É A PURA E SIMPLES DE ANTES... AGORA PERCEBE SONS E CORES, ANTES IMPERCEPTÍVEIS. ESCUTA SEUS SONHOS POIS TEM CERTEZA DE QUE ELS FALAM COM ELA.
 MARIA APAIXONARA-SE POR CANDINHO GIORGETTI!
 E COM A ATITUDE MAIS POÉTICA E DELICADA POSSÍVEL, COMEÇA A ESCREVER PEQUENOS E DOCES BILHETES PARA CANDINHO.
 E, O CORAÇÃO SENSÍVEL, ENSINA-LHE: ""DEIXEMOS OS NOSSOS BILHETES COM O TONICO DO BAR, E ELE OS ENTREGARÁ AO NOSSO AMADO""...
 E ASSIM MARIA FAZ! ESCREVE... ESCREVE... LAPIDANDO SEUS SONHOS DE MOÇA ENAMORADA.  ESCREVE AS PRIMEIRAS LINHAS DAQUELA QUE SERIA A SUA HISTÓRIA DE VIDA... ESCREVE PARA AQUELE QUE SERIA SIM O PAI DE SEUS FILHOS. O HOMEM DE SUA VIDA!
 E TONICO OS ENTREGAVA A CANDINHO. QUE JÁ SE SENTIA TOMADO DE AMORES POR MARIA.
 OS DIAS PASSAVAM SOB O DOURADO SOL DO SÍTIO DOS TURCARELLI. O TEMPO DEIXAVA QUE MARIA ESCREVESSE... ESCREVESSE... E A RODA GIRAVA... GIRAVA AS MOENDAS DE AMOR E SONHO... RODA DA VIDA... GIRO DO MUNDO... DA CHEGADA E PARTIDA DAS ALMAS... DOS ENCONTROS E REENCONTROS DE ALMAS... AS MAIS APAIXONADAS... ÍMPETOS DE VIDA LATENTE! SEMPRE!
 E SEGUNDO A MEMÓRIA DOS MAIS ANTIGOS, NUMA TARDE DE FESTA EM APARECIDINHA DE SÃO MANUEL, QUANDO TODOS FESTEJAVAM E REVERENCIAVAM A VIRGEM, BRAÇO DIREITO DO CRIADOR... ALGO SURREAL ACONTECE NO SÍTIO DE, EM RESPOSTA AOS ESCRITOS DE MARIA... MARIA, TAMBÉM FILHA DE MARIA, A SANTÍSSIMA!
 NO GIRO DA RODA E NO BARULHO DA MOENDA, ASSISTIDOS PELO INCESSANTE BORBULHAR DO CATETINHO, PELOS APITOS LONGÍNQUOS DO TREM, CONTEMPLADOS PELAS ÁGUAS DO RIO LENÇÓIS E SUAS VIVAS MATAS A CANTAR LOUVORES À VIRGEM PELO SEU DIA... CANDINHO PEDE A MÃO DE MARIA POETA, AMOROSÍSSIMA, EM CASAMENTO!
 E O VENTO SOPROU... A RODA GIROU... A MOENDA CANTAROLOU AS POESIAS DE MARIA... LUZES ESPALHARAM-SE DE DENTRO DA MOÇA TRANSFORMANDO-A EM MULHER...
 FOI ASSIM QUE TUDO COMEÇOU NOVAMENTE PARA UMA GERAÇÃO DE AMORES, POEMAS E LOUVORES!
                                                                          guardiadelendas.blogspot.com
                                                                          Célia Motta.  







    Casamento de Candinho Giorgetti e Maria Turcarelli, celebrado pelo Padre João Novaes, na Igreja Matriz, em Lençóis Paulista, hoje, Santuário da Piedade.
                                                                                     
                                                                                           guardiadelendas.blogspot.com
                                                                                           Célia Motta.

quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

"O atentado contra o Padre Magnani"


Em se tratando de ícones religiosos, de modo muito particular, carrego diferenciado apreço por José Magnani. De personalidade e temperamento revolucionários, de porte diferenciado, ousado, impulsivo, afrontando valores e posturas de uma época, Magnani envolveu-se na causa abolicionista e teve grave participação na política local e seus desfechos. Corajoso e fascinante, polêmico e intransigente, herói e contraventor, assim era o vendaval em forjado em sacerdócio... Então, um pouquinho de Padre Magnani, extraído do livro de Edson Fernandes, Histórias Incomuns.


UM TIRO NA NOITE
O atentado contra Magnani

Na noite de 30 para 31 de março de 1899, início da sexta-feira santa, o padre Giuseppe Magnani voltava da igreja matriz e seguia pela rua Duque de Caxias em direção a sua casa, acompanhado de Martinho Santini, quando um cavalo irrompeu das sombras da noite, se aproximou e um jovem cavaleiro disparou um tiro de garrucha que rasgou o silêncio da vila.
“(...) um cavalo irrompeu das sombras da noite, se aproximou e um jovem cavaleiro disparou um tiro de garrucha que rasgou o silêncio da vila.”
Rápido como chegou, o cavalo “Odeon” sumiu na noite deixando caído o padre Magnani, atingido por bagos de chumbo no peito, na barriga, que lhe penetraram o pulmão.
Esta é a história das intrigas, acusações e julgamentos que levou à prisão do jovem Lazinho, autor do atentado contra a vida do vigário de Lençóes.
O padre Magnani não era uma pessoa de trato fácil. No início daquele fatídico ano de 1899, já se envolvera numa feroz polêmica com um dos políticos mais influentes de Bauru a respeito das eleições de juiz de paz daquele povoado. Num artigo publicado no jornal O Estado de S. Paulo, em 18 de janeiro de 1899, Azarias Ferreira Leite se dirigia a Magnani, “padre desmoralizado e sujo, foragido de Garfagnani em companhia de uma moça que vive em sua companhia e que passa por irmã sua, que não desejo discutir consigo, enquanto não exibir folha corrida das autoridades de sua terra natal”.
A acusação de que o padre tinha uma amante que se passava por sua irmã e que se casara com o sacristão era corrente em Lençóes.
Azarias Leite afirmava que o juiz de direito de Lençóes Leocadio Leopoldino e o “tal padre cabeludo de Garfagnani” eram “almas danadas da Comarca de Lençóes” e denunciava o juiz como prevaricador, “subornado pelo padre Magnani e pelo agrimensor Ismael Falcão, ambos suficientemente conhecidos”.
A política era uma área imprópria para almas sensíveis e naquele meio não havia inocentes.
Dias depois, o coronel José Candido da Silveira afirmou ter sido agredido por dois capangas de Magnani, um dia após a realização de eleições.
O padre tinha há tempos muitos inimigos que tinham muitos motivos para neutralizá-lo. Faltava alguém disposto a fazer o trabalho sujo e este alguém foi Lázaro Camargo de Melo.
Lazinho, como era conhecido, tinha 21 anos de idade e foi classificado por uma autoridade policial como um “criminoso vulgar”. Apesar da pouca idade, sua ficha era extensa, sempre envolvido em desordens, furtos de animais e atentados contra diversos moradores da região.
Seus próprios pais atestavam seu mau comportamento. Já havia sido condenado anteriormente, mas, num novo julgamento, fora absolvido.
Certa vez, quando esteve preso na cadeia de Lençóes, maltratou a própria mãe, arremessando-lhe na cara o prato em que ela lhe levava comida.
Com toda esta folha corrida, já havia sido soldado e até sargento de polícia! Atuava em Campos Novos de Paranapanema e cometera diversas faltas graves em serviço como extravio de peças de fardamento, o que fez as autoridades daquele lugar pedirem sua retirada.
De outra vez, Lazaro estava num bilhar conversando com algumas pessoas. Dario José de Sant’Anna, presente no local, ouviu Lazaro afirmar que se lhe dessem um conto de réis e um cavalo mataria José Magnani. Alguém provocou: e se fosse por duzentos mil réis? Lázaro afirmou que sim, também mataria por aquela quantia. E riu.
E o tiro foi dado na noite de 30 para 31 de março de 1899, deixando caído o padre Magnani.
Após o tiro, Lazinho partiu a cavalo rumo ao Paraná. Na fuga parece ter se apoderado de dois outros animais, além do cavalo “Odeon” com o qual praticou o delito: outro cavalo vermelho e uma besta, com os quais foi visto em uma ocasião. Na tarde do dia 1º de abril foi visto em Avaré, cruzou o rio Paranapanema, passou por Santo Antônio da Boa Vista. Noutra ocasião foi visto apenas com o animal que montava, uma mula. Consta que levava 600$000 em dinheiro. Para o delegado, era o dinheiro que recebera pelo atentado. Para a defesa, tudo indicava que era fruto da venda dos animais furtados.
Três dias depois do atentado, em depoimento o padre Magnani afirmou que sua morte estava há muitos meses deliberada por seus adversários políticos – empregados da câmara municipal, autoridades policiais e outros -, e nomeou um deles, o advogado Sebastião Ribas da Silva.
Nascido em São Paulo em 1871, Sebastião fez parte do Batalhão Acadêmico de São Paulo. Jovem, mudou-se para Lençóes e manteve estreitas relações com a elite política e econômica da terra, advogando e militando na política, ambas atividades que lhe renderam aliados e desafetos, como era comum na agitada Lençóes, e um curto período na prisão, junto com duas outras figuras eminentes, o tenente-coronel José Candido da Silveira Correa e o major Otaviano Martins Brisola.
Lazinho e Sebastião Ribas já haviam sido aliados numa ocasião, quando o advogado moveu uma execução contra Gabriel de Souza Vieira, residente no sertão do Bauru. Gabriel era temido por todos os oficiais de justiça que recusavam efetuar diligências contra ele. Vários deles haviam sido ameaçados pelo filho de Gabriel. O que fez Ribas? Recorreu aos serviços de alguém de mesma espécie. Lazinho serviu então de oficial de justiça ad-hoc, em 11 de fevereiro de 1898. Numa segunda penhora de bens de Gabriel, em 23 de março do mesmo ano, mais uma vez Lazinho foi contratado, desta vez para fazer o serviço com o oficial de justiça Miguel Paulo de Andrade.
Lazaro comprou o cavalo com a fiança de Sebastião Ribas, o que fez crer aos seus acusadores que eles estavam de tramoia contra o padre. A defesa do réu, no entanto, demonstrou
que a fiança só teria validade se Lazaro efetuasse a diligência contra Gabriel Vieira. O vendedor do cavalo, Osório de Melo Coelho, depôs no inquérito e exibiu o documento, escrito pelo próprio Lázaro, onde constava que a fiança era condicional.
Recuperando-se dos ferimentos, Magnani decidiu criar um jornal. O Imparcial veio à luz no final de maio de 1899 e serviu para o vigário defender suas causas, inclusive fazendo severas críticas ao projeto de lei apresentado ao Congresso do Estado transferindo a comarca de Lençóes para São Paulo dos Agudos que, afinal, acabou acontecendo.
Enquanto se processavam os preparativos para o julgamento, Lázaro Camargo de Melo foi localizado em Castro, Estado do Paraná.
No dia 16 de setembro de 1899, teve inicio a 3ª sessão anual do júri da Comarca, em Agudos. O juiz era Leocadio Leopoldino da Fonseca e Silva e promotor o advogado Gabriel de Oliveira Rocha.
Nesse dia respondeu por crime de morte o réu Pedro Arruda. Foi defendido pelo dr. Paulo de Lacerda Pessoa, sendo condenado a 30 anos de prisão celular. Seu advogado protestou por novo julgamento.
No dia 19 entraram em julgamento os réus José Gonçalves Cardoso, por tentativa de assassinato, e Porfirio Venâncio, por ofensas físicas. Foram absolvidos.
No dia 20, teve início o aguardado julgamento de Sebastião Ribas da Silva, acusado de ser mandante da tentativa de assassinato de José Magnani. A defesa, a cargo de Paulo Lacerda e auxiliado por Eduardo Carr Ribeiro, procurou desqualificar as testemunhas e as provas.
A defesa soube explorar as inconsistências presentes nos depoimentos das testemunhas de acusação, entre elas Candido Alvim da Palma, João Damasceno da Rocha e Joaquim Poli. Por exemplo, João Damasceno depôs dizendo que entre Lazaro e Magnani não havia inimizade. No entanto, no próprio dia do crime, afirmara ao chefe de polícia que era sabido que Lázaro há muito prometera matar o padre.
Sebastião Ribas foi absolvido. O coronel Delfino Alexandrino de Oliveira Machado ofereceu em seu palacete um jantar em sua homenagem.
A sessão do júri foi encerrada com o julgamento – e absolvição – de Osório Nogueira e Firmino de Tal.
O resultado do julgamento deixou o padre furioso. Seu jornal, O Imparcial, publicou ataques furiosos contra o advogado Paulo Lacerda.
No ano seguinte, Magnani sofreu vários reveses. Teve suspensas suas ordens eclesiásticas e foi substituído por outro vigário, Francisco Xavier Costabile. Uma capela que havia construído fora interditada, mas Magnani se recusava a fechá-la. Costabile recorreu à polícia para fechá-la, mas Magnani se escondeu para não entregar as chaves.
O novo vigário acusava Magnani de pintá-lo como um “muçulmano”, um “bandido” para colocar o povo contra ele. Fez acusações graves: afirmou que Magnani “procurou armar braços para assassinar-me!”.
No início de junho de 1900, Magnani foi preso acusado de estar incurso no §10 do art. 338 do código penal. A prisão foi efetuada por uma força vinda da capital. O padre requereu no mesmo dia habeas-corpus e saiu poucos dias depois da cadeia de Agudos.
Faltava o julgamento de Lazaro, que ocorreu um ano depois, dezembro de 1900, em sessão presidida pelo dr. Barros Barreto. Tudo indica que várias sessões foram realizadas até a decisão final.
Em março de 1901, mais um julgamento, desta vez sob a presidência do juiz de São Manuel, Abelardo de Almeida Pires, que atuou devido ao impedimento do juiz Barros Barreto, denunciado ao Tribunal de Justiça por perseguição ao padre Magnani.
No penúltimo julgamento, Lazaro havia sido condenado no grau máximo da pena. A atuação de seu defensor, Fábio Guimarães, conseguiu minorar sua pena, reduzida a 4 anos de prisão celular.
Condenado, Lazinho foi transferido a capital, chegando no dia 03 de maio de 1901. Lá, foi removido para a penitenciária.
Eis o fim de alguns personagens:
Sebastião Ribas da Silva, como vimos, nasceu em São Paulo, mas passou parte da juventude em Lençóes, onde se casou com Georgina (Geny), filha de Ângelo Pinheiro Machado, potentado local. O casamento ocorreu em dezembro de 1899, seis meses após o atentado ao padre. Ele tinha 28 anos, ela 16. Tiveram 6 filhos.
Ribas da Silva foi advogado da Companhia de Estrada Sorocabana e agente de uma companhia de seguros na capital, para onde se estabeleceu pouco tempo depois do atentado e onde atendia na rua Direita. Na capital, também estabeleceu relações com a elite econômica e política. Foi aceito como sócio do Jockey-Club Paulistano, em outubro de 1902 e foi diretor de corridas do clube em anos seguintes. Dedicou-se à criação de cavalos, importando alguns deles.
Sebastião Ribas da Silva faleceu em junho de 1938. Georgina, sua mulher, viveu a viuvez por muitos anos: faleceu em setembro de 1966. Ambos estão enterrados em Lençóis.
Eduardo Carr Ribeiro – Pouco antes do atentado, foi vice-presidente da câmara municipal de Lençóes. Era casado com Olímpia Carr Ribeiro. Teve 5 filhos: Eduardo, Yolanda, Odete, Stela, Olímpio. Atuou como advogado em Avaré, Agudos e São Paulo, além de Lençóes. Possuía terras às margens do rio Feio, em Bauru, mas foram colocadas à venda por conta de sua falência.
Azarias Ferreira Leite – mineiro de Lavras, chegou ao povoado de Bauru em 1888. Em pouco tempo, já era destacado fazendeiro e chefe político local. Foi presidente da Câmara Municipal de Bauru até que, por desavenças política, foi assassinado no dia 19 de outubro de 1910, quando se dirigia de sua fazenda para a cidade.
José Magnani - Não sendo mais vigário da paróquia desde 1900, Magnani continuou servindo à causa da religião, mas ficava como uma sombra sobre os párocos que se sucediam em Lençóes. Sabe-se que vivia às turras com seus sucessores, o primeiro deles, padre Francisco Constabile, ficou cerca de um ano na paróquia. Em setembro de 1902, o governador geral do bispado concedeu novamente a Magnani as provisões de uso de ordens, de confessor e pregador, e também provisão da capela de Nossa Senhora da Pompéia que ele havia construído. Tempos depois, reassumiu o vicariato da matriz. Testemunhou o rigoroso inverno de 1918, quando a temperatura baixou a 4,8 graus negativos deixando o solo coberto com uma camada de neve que queimou toda a vegetação das áreas altas e baixas da região. Morreu no dia 14 de junho de 1921 com a idade de 70 anos. Seus restos mortais estão hoje no Santuário Nossa Senhora da Piedade.
Lázaro Camargo de Melo – Cumprida sua pena, voltou para o interior. Em 1906, morreu em São Manoel em confronto com a polícia.

Fontes:
Oliveira, Laura Laís; Gomes, Roger Marcelo Martins. Igreja e coronelismo: o padre dom José Magnani entre os coronéis de Lençóis Paulista. Disponível em:
http://www.usc.br/biblioteca/pdf/jor_2009_hga_igreja_e_coronelismo_o_padre_dom_jose_magnani_entre.pdf
Bastos, Irineu Azevedo. Sertão noroeste: o poder municipal na República Velha. Bauru, SP: Edipro, 2000.
Jornal O Estado de S. Paulo, edições 03 abril 1899; 20 abril 1899; 28 maio 1899; 14 junho 1899; 19 abril 1899; 05 outubro 1899; 17 dezembro 1900; 04 maio 1901. Disponível em: http://acervo.estadao.com.br/. Acesso em janeiro 2013.


                                                     
                                                                                                              guardiadelendas.blogspot.com
                                                                                                               Célia Motta.


terça-feira, 19 de dezembro de 2017

Padre Salústio Rodrigues Machado

Este homem marcou profundamente a religiosidade no Município de Lençóis Paulista e no Distrito de Alfredo Guedes, desde o finalzinho da década de 30.



Aqui e acima, Padre Salústio com uma de suas turmas em colégio tradicional de Botucatu, Ginásio Nossa Senhora de Lourdes, salvo engano, onde era diretor. Abaixo, no canto esquerdo da fotografia, está Candinho Lourenço, meu tio avô, com as mãos apoiadas na parede. Belíssimo registro para ser eternizado em nossa memória.


Padre Salústio Rodrigues Machado, nascido em 03 de Junho de 1897; falecido em 05 de Julho de 1955. Tradicional ícone de nossa cultura religiosa. Conduziu no Distrito de Alfredo Guedes, inúmeras cerimônias religiosas.
                                                                                        guardiadelendas.blogspot.com
                                                                                        Célia Motta.

sexta-feira, 15 de dezembro de 2017

"Peculiaridades coloridas em Verde e Azul"

E da mesma forma que logo se irão, a história e tradição, no vasto negrume do nosso chão, da mesma forma que no peito de tantos e tantos, cresce a indignação, também existe um arco-íris "sui generis", com somente duas cores: Verde e Azul!
E o Verde e o Azul, ofuscam a recente mortandade dos nossos peixes no Rio Lençóis, poluindo as nossas águas com os resquícios de morte e abandono, encantando as pueris consciências, iludindo a sua ótica, como se fossem as águas límpidas e transparentes, como se as várias espécies de peixes, ainda lá estivessem.
 O mesmo Verde e Azul, camufla estranho incêndio do fabuloso bambuzal, sepultando mais uma de nossas preciosidades naturais e ambientais.
Sem investigação dos órgãos competentes, o colorido  Verde e Azul, vai seduzindo os incautos, inclinados aos antigos bacanais romanos, onde a diversão irresponsável e as pequenas vantagens, superam a visão crítica, ressaltando a falta de conhecimento.
E apesar de sabido que jamais deve-se jogar pérolas aos porcos, as veias tremulam nos Confins da Ditadura, fazendo ainda erguerem-se algumas manifestações de reivindicação e desconforto.

                                                                                         
                                                                                                       guardiadelendas.blogspot.com
                                                                                                       Célia Motta.

quinta-feira, 14 de dezembro de 2017

"NATAIS"



HAVIA SEMPRE ALGUMA PALAVRA, CHEIRO, TEXTURA OU SITUAÇÃO QUE MARCASSE DE TAL MODO CADA UM DOS NATAIS DE MINHA INFÂNCIA.
A VOZ DE MINHA MADRINHA, IMPRIMIA PROFUNDAS E ETERNAS MARCAS EM MINHA ALMA DE CRIANÇA,  MARCAS DE SEU SINGELO AMOR,  CARREGADAS DE UM FRESCOR DESPREOCUPADO QUE  A SUA ALEGRE VELHICE TRADUZIA EM SORRISOS ÍMPARES VELADOS POR UM OLHAR DE LUZ.
JABUTICABEIRAS GIGANTES EMPRESTAVAM SOMBRA E PERFUME NAQUELES DIAS QUE PRECEDIAM DESCOBERTAS DE UM AINDA DISTANTE PORVIR.
CABELOS SINTÉTICOS DE BONECAS E BICHOS DE PELÚCIA, DAVAM ASAS À MINHA IMAGINAÇÃO SEM LIMITES, NAQUELES DIAS MÁGICOS DE TANTOS DEZEMBROS...
CHUVAS DE VERÃO FORMAVAM COROS COM OS TILINTARES SEM FIM DAS PEQUENINAS BOLAS DA ÁRVORE DE NATAL, QUE EU ESCOLHERA NA COR VERMELHA BRILHANTE. MINHA MÃE COMPRARA UMA PEQUENA CAPELINHA COM UM MINÚSCULO PRESÉPIO DENTRO, QUE NA PENUMBRA DA CASA, CLAREAVA EM PEQUENINO PONTO NA ESCURA MADRUGADA. HAVIA UMA PORTA DE DUAS FOLHAS QUE DIVIDIA A SALINHA DA FRENTE ONDE FICAVA MONTADA A ÁRVORE MAIS LINDA DO UNIVERSO, DO "MEU" UNIVERSO INFANTIL. O MAIS COMPLETO PRESÉPIO DE MINHA ALMA, QUE ACATAVA O MENINO JESUS COMO A MÁXIMA EXPRESSÃO DE SENTIMENTO. E ESSA PORTA ERA SORRATEIRAMENTE ENTREABERTA DURANTE AS NOITES, PELOS GATOS QUE SEMPRE TIVEMOS EM CASA, FELINOS A NOS ACOMPANHAR AO LONGO DE TODA A EXISTÊNCIA DE NOSSOS ANCESTRAIS E DE NÓS MESMOS. VINHAM EM SEGREDO, OLHAREM-SE EM REFLEXOS COLORIDOS NAS BOLAS QUE DIMINUÍAM ANO A ANO, NATAL A NATAL, TRANSFORMANDO-SE EM ESTILHAÇOS COLORIDOS E RELUZENTES. TILINTARES DISPARADOS POR PATAS LÚDICAS E FELPUDAS DE FELINOS, ERAM, PARA MIM, SINOS! 
E VINHAM DE BELÉM, ENVOLVIAM-ME E AINDA PERMANECEM EM MEUS OUVIDOS... TILINTAM EM MINHA CABEÇA... LEVANDO-ME DE VOLTA ÀQUELES DIAS CHUVOSOS DE BENÇÃOS... MELODIOSOS SINOS A ENTONAR ANTIGAS CANÇÕES NATALINAS...
CENAS DISPERSAS DESLOCAM-SE DE MINHA MEMÓRIA, FUNDINDO-SE E JUNTANDO-SE À MINHA FRENTE... AMANHECERES ENVELHECIDOS, CHEIRANDO À NAFTALINA A DISSOLVER-SE EM GAVETAS MÍSTICAS DENTRO DE MEU SER! SER ÉBRIO DE NOSTALGIA!
AS VELHAS E DESBOTADAS LENDAS JÁ BROTAVAM DENTRO DE MIM E MINHAS MÃOS JÁ TRANSPIRAVAM MISTÉRIOS VELADOS DOS NOSSOS ANTEPASSADOS. NÃO POR RARAS VEZES, MEUS OLHOS PERDIAM-SE EM CONTEMPLAÇÕES INVISÍVEIS.
ENTÃO, EMERGIA E FIXAVA-SE UMA CENA: MINHA MÃE ME ENSINANDO UMA OUTRA VERSÃO SOBRE OS PRESENTES DE NATAL:“FILHA, QUEM TRAZ OS PRESENTES NÃO É PAPAI NOEL, É O MENINO JESUS!” E EU PENSAVA NAQUELE MINÚSCULO GAROTINHO DA CAPELA QUE CLAREAVA NO ESCURO, LEVANTANDO-SE DALI E ENTRANDO NAS CASAS DAS CRIANÇAS PARA ENTREGAR PRESENTES. GAROTINHO MÁGICO, FEITO DE LUZES DE DEUS, A BRINCAR COM PIRILAMPOS VERDES, VAGALUMES, LUZES A VAGAR PELAS NOITES SOMBRIAS DE JABUTICABEIRAS PERFUMADAS.
O FILHO DO CRIADOR PARA MIM, ERA SIM, O MENSAGEIRO DE TODAS AS ALEGRIAS, A DESPERTAR A GRATIDÃO DE PEQUENAS ALMAS ESPONTÂNEAS. EU SIGO DEVENDO ESSA LINDA CONCEPÇÃO DE DEUS, À MINHA MÃE, 
NÃO MENOS DIVINAL, A ENCARNAR TÃO BEM O SURREAL, A EXPRESSAR-SE TÃO PERFEITAMENTE BEM SURREALISTICAMENTE, AINDA QUE SEM BASES LITERÁRIAS PARA TANTO: JESUS QUE DISPERSA FELICIDADE!
ENTENDO AGORA QUE EMOÇÃO MATERNA VALE MAIS DO QUE QUALQUER RELIGIÃO. EMOÇÃO DE MÃE É CONCEBIDA EM NATAIS DE FAÍSCAS DIVINAS A DERRAMAREM-SE SOBRE SUA ALMA. FLAMEJANTE CONCEPÇÃO!
VOLTO À CENA E ME VEJO CAMINHANDO ATRÁS DELA E DE MEU PAI, AMBOS APRESSADOS E TROCANDO OLHARES CERTIFICANDO-SE DE NÃO TEREM SE ESQUECIDO DE NADA. MEUS PASSOS ANSIOSOS, COM AS MÃOZINHAS A TRANSPIRAR, SEGUINDO OS DOIS ATÉ A COZINHA DE FORA DA CASA, REDUTO DE MINHA MADRINHA DE OLHOS DE LUZ. SOBRE O FOGÃO À LENHA, HAVIA UM PAR DE SAPATINHOS DE VERNIZ VERMELHO... MEUS PREFERIDOS DA VIDA INTEIRA!
AO LADO, UMA CAIXA GRANDE EMBRULHADA PARA PRESENTE. AH! MÁGICA EUFORIA A ENTUSIASMAR TODAS AS PRESENÇAS ALI! MINHA ALMA COMEÇAVA A DAR VIDA PARA A BONECA QUE GANHARIA O NOME DE MINHA AMIGA IMAGINÁRIA: MAURÍCIA! UM PEQUENO VASO IMPROVISADO COM UMA FLOR, FICARA ALI, ESPERANDO JESUS, O MENINO QUE CHEGARIA GUIADO PELOS PIRILAMPOS E VAGALUMES CELESTIAIS, MINÚSCULO E ABSOLUTO.
HAVIA AINDA UMA BOLSINHA VERMELHA, REDONDA, A FECHAR-SE NUM DELICADO GANCHO NAS ALÇAS. REDES BEM TRAMADAS EM RUBRO PLÁSTICO DEIXAVAM ENTREVER O QUE HAVIA DENTRO: ERAM DOCINHOS DE VÁRIAS CORES, CHOCOLATES E DADINHOS.
ENTÃO ERA VERDADE! O MENINO SAÍRA MESMO DE SUA CAPELINHA DURANTE A NOITE PARA PRESENTEAR-ME. E MINHA MÃE E MEU PAI ERAM AS MINHAS TESTEMUNHAS.
AO ABRIR A CAIXA, LEVANTO MAURÍCIA, QUE EM RESPOSTA ME ABRE OS OLHOS! MEU CORAÇÃO DISPARA! ESTÁ VIVA E VEIO BRINCAR COMIGO! PASSEAREMOS PELA CASA E PELO VELHO POMAR DO PADRINHO COM A BOLSINHA DE DOCES! SOMENTE EU E MAURÍCIA.
MINHAS LÁGRIMAS DESPERTAM-ME...
NÃO MUDOU MUITA COISA... EU AINDA ACREDITO NO FANTÁSTICO! CREIO NO SURREALISMO!
AS JABUTICABEIRAS AINDA ME LEVAM AO ÊXTASE!
EM TODOS OS NATAIS AINDA SINTO O CHEIRO SINTÉTICO DOS CABELOS DAS VÁRIAS MAURÍCIAS QUE VIERAM BRINCAR COMIGO NA INFÂNCIA!
AINDA PONHO FLORES PARA O MENINO DEUS!
MEU PAI CONTINUA A GUIAR-ME! AH! MOTTA! COMO VOCÊ É SEMPRE PRESENTE!
OS CLÁSSICOS DADINHOS DE AMENDOIM AINDA RETORNAM À MINHA BOLSA, QUE NÃO É MAIS DE RUBRO PLÁSTICO.
OS SALTOS ALTOS REMETEM AOS SAPATINHOS DE VERNIZ VERMELHO...
MINHA MÃE SEGUE VENDO A MAGIA DO NATAL! DO ALTO DE SEUS ANOS, TALVEZ NEM SE LEMBRE MAIS DO QUANTO ME TROUXE ENCANTAMENTO.
MINHA AMIGA MAURÍCIA, AGORA É MINHA METADE, MARIA FRANCISCA! NÃO A DESCUBRO ABRINDO CAIXAS DE PRESENTE, MAS A SINTO EUFÓRICA JUNTO DE MIM, QUANDO A VEJO RENASCENDO DIA À DIA... NATAL A NATAL... EM PÁGINAS VIRTUAIS, BLOGS...
POR MIM AMADA!
ESPERADA!
REVERENCIADA!
PELA VIDA, PELO DEUS MENINO DE PIRILAMPOS CELESTIAIS, À MIM ANUNCIADA!
EM MINHA ALMA CONCEBIDA, JUSTIFICANDO A MINHA VIDA, MEU PASSADO E MINHAS TRILHAS FUTURAS...
TODOS OS MEUS NATAIS...



                                                                                                   guardiadelendas.blogspot.com 
                                                                                                   
CÉLIA MOTTA




quarta-feira, 13 de dezembro de 2017

REGRESSO



COMPORTAS QUE SE ROMPEM! ÁGUA QUE DESABA!
DERRAMA-SE EM CACHOEIRA...
ÁGUAS DE MULHER!

NAQUILO EM QUE ME IMPLODE, CONFRONTA-ME COM O MEU ÍNTIMO!
NAQUILO EM QUE ME EXPLODE, ESPALHA-ME EM FAÍSCAS FLAMEJANTES!
DESPEJANDO SONHOS... ENCONTRANDO ALMAS...

SUBJUGANDO MEU QUERER... DERRAMA-ME EM FLAMEJANTE CALDA,
ABSINTO A INEBRIAR-ME...
ARRANCANDO-ME DE MIM MESMA... DILACERANDO-ME EM DORES... 

FAZ BROTAR E FLORESCER...
EMBRIAGANDO MEU SER... DOCE ABSINTO EM SEU INTENSO PODER!
TRANSBORDANDO IMENSIDÃO DE ÁGUAS.

ÁGUAS DE TANTAS E TANTAS LÁGRIMAS EM CONFUSOS SOLUÇOS,
ÁGUAS DE MEU REBENTO AFOGADO E INERTE, 
SEM DOR, SEM EXPRESSÃO, SEM DEFESA E SEM VIDA.

E EU, DIABOLICAMENTE LOUCA E ENSANDECIDA...
PROCURANDO POR ABSTRAÇÕES, ENTRE TANTAS ASSOMBRAÇÕES,
SEM SABER O QUÊ! EU QUERIA A MINHA CRIA! UM DIA, EU FINALMENTE SABERIA!

ABISMOS DE LODO E ESCURIDÃO GELADA,
MORTE EM MIM, NÃO ANUNCIADA,
VAGUEI RASTEJANTE POR NOITES E POR LUAS SEM LUZ, TRÔPEGA E DESVAIRADA.

ÁGUAS DO PARTO QUE ME FIZERAM MORRER,
ÁGUAS QUE PROPICIARAM A MEU SER, TAMBÉM RENASCER,
NO FEL DE TURBULENTAS TEMPESTADES ESPIRITUAIS, CRESCER!

ÁGUAS INUNDANDO MINHA MEMÓRIA ANTIGA,
ÁGUAS QUE TROUXERAM O MEU ESQUECIMENTO!
ESQUECI O FILHO SEU E MEU! MEU REBENTO!

MAS VEIO VOCÊ, DE UMBRAIS PARA MIM DESCONHECIDOS,
RESGATANDO DESEJOS E VONTADES SEPULTADAS,
... E AGORA TUDO ME MOSTRA PELOS SEUS OLHOS.
         Lázaro Lourenço da Silva, morador da Fazenda Boa Vista no Distrito de Alfredo Guedes,  falecido no ano de 1964, na cidade de São Manuel-SP.
           
E PELOS SEUS OBSERVADORES E ATENTOS OLHARES,
ENCONTRO MEUS SEGREDOS,
REDESCUBRO O MEU REBENTO, NOSSA CRIA! E VOCÊ ME ALUMIA!

ONTEM, TÓRRIDO AMANTE,
EM VIAGENS INCESTUOSAS COMIGO! 
HOJE, AMIGO!

ONTEM PAIXÃO, AGORA, EM VERDADE MEU IRMÃO, NAS TRILHAS DA REDENÇÃO.
FOI O PAI DO MEU DESFIGURADO REBENTO, AGORA NOS GUIA,
MÃE E FILHO, PARA NOVO ALENTO.

SEM VOCÊ, NÃO HAVERIA A MINHA GRATIDÃO,
SEM AS SUAS ÁGUAS DE TEMPESTADES, NÃO EXISTIRIAM O MEU E O SEU PERDÃO,
E EU NÃO ME BANHARIA, JAMAIS, EM ÁGUAS DE PURIFICAÇÃO.

... RELEMBRANDO ANTIGAS VIDAS... ABSINTO A SEDUZIR-ME POR ESTRANHA ESTRADA!
MINHAS ESPIRITUAIS ENTRANHAS, 
AQUI, MISTERIOSAMENTE REENCONTRADAS!

AQUI FUI PROFANA, INCESTUOSA, PAGÃ E HEREGE!
BRUXA DAS MATAS, A VOCÊ ENTREGUE!
E É JUSTAMENTE AQUI, QUE VOCÊ ME REERGUE...
                                                                                                  guardiadelendas.blogspot.com
                                                                                                   Célia Motta.
                     Antiga Fazenda Boa Vista - Distrito de Alfredo Guedes.

                                                                                                

terça-feira, 5 de dezembro de 2017

Vergonha alheia!

É sabido que a ofensa só se concretiza nos pontos em que ocorre a ressonância.
É sabido que ler com um dicionário da própria língua ao lado, também não é assim, digamos, uma tarefa das mais agradáveis. Entretanto, às vezes necessária para todos nós.
Ressonância, também é o que ocorre quando nos espelhamos em alguém, e assim se explica como as afinidades se aproximam:
-aos sensíveis, a poesia;
-ao simplório, o óbvio, posto que isto já lhes é em demasia;
-aos criminosos, outros criminosos de peculiar falta de valor;
-aos declaradamente injuriosos, mais e mais injúrias, sempre covardemente desditas diante do confronto.
E assim, os espelhos vão nos dizendo quem de fato somos, o que de fato valorizamos, e o que esperamos da vida.
Isso define se estamos entre os que querem deixar um mundo melhor para as futuras descendências; ou se estamos do lado dos que se comprometem em formar melhores descendências para o nosso mundo.
Dia desses, me disseram que meu problema não são os desatinos cometidos no distrito de Alfredo Guedes, mas "quem" está no comando. Mas é evidente que tanto os desatinos como "quem" os comete, me causam espanto e desconforto, e eu justifico com uma simples fala: "prezo demais a honestidade e a conduta ilibada de um homem público, posto que deveriam ser de caráter obrigacional". Assim como me é exigida a certidão negativa de antecedentes criminais, para ingressar no serviço público, também deveria exigir-se o mesmo, na contratação dos postos de comando.
Do contrário, minha postura sempre será esta, gostem ou não. Mas sempre vão cabendo recursos e mais recursos no andar de algumas carruagens de podridão e vergonha. E no terreno das semelhanças, o pessoalzinho vai se encontrando nas páginas do TJ SP!
Esse discurso barato, onde se lê uma pequena ameaça, apelações ao constrangimento da vida pessoal dos que se posicionam diferente, o apego às transitoriedades e puerilidades de cabecinhas infantilizadas (apesar de que algumas, estejam povoadas de experiências em delitos criminais!), bem como toda forma de desequilíbrio e desconhecimento demonstrada nas agressões, interpretações equivocadas e joguinhos de troca de favores; me arrepiam a espinha, por me fazerem ver mais e mais o quanto a ignorância é a mãe de todas essas "certezas absolutas", que povoam o imaginário dos defensores do nosso "trânsito movimentado". Por muitas vezes, me sinto em Sucupira, a esperar a inauguração do cemitério... rsrs... ainda que seja sobre um tapete de asfalto negro.
Mas, vamos nós do nosso jeito!
Imagine se é possível, em sã consciência, aceitar um "sem mais", após comparar supostas e triviais infidelidades conjugais
ao aporte de memórias de um reduto! Só mesmo em Sucupira, ou nos Confins da Ditadura! É a nossa estranha nação...
Imagine se é possível denominar o nosso arsenal de histórias, de "memórias da PQP"! Claro que não, pois há muito pouco tempo as PQP(s) estão parindo, portanto as suas memórias ainda estão sendo vividas, para posteriormente, alguém resgatá-las (se forem interessantes ou produtivas!).

                                                                                       guardiadelendas.blogspot.com
                                                                                       Célia Motta.