domingo, 26 de dezembro de 2021

 O Cristo Revolucionário


Eu quero um mundo de liberdade de escolhas, com pluralidade de crenças e ricos rituais.  Com muitas cores. Cores de gente, cores de paisagens, cores de cabelos, cores de olhos, cores de bichos diversos. Quero tudo diverso. Com multiplicidade de infinitas raças e pessoas de todos os gêneros e de todos os pesos, de todas as medidas e todas as ideologias do Bem. Um Mundo com toda forma de amor e de sexualidade. Um mundo que seja belo por todas as diferenças que carrega. Um mundo sem rótulos e sem padrões preconcebidos.

 Eu não quero um mundo em que o Cristo nasça impreterivelmente todos os anos por milênios sem ter corações humanos em número suficiente para germinar e florescer no útero da Mãe Terra. Não quero mais um mundo que não perceba o Cristo nas selvas, e florestas. Não quero um mundo que divida a criação em grupos e explore os animais, tão mais humanos do que nós. Não quero um mundo que insista em embranquecer o Cristo e azular os seus olhos. Não quero um mundo em que a mãe desse Cristo sofra um apagamento histórico em função das forças destrutivas do patriarcado. Não quero um mundo onde a educação tradicional mutile a sexualidade das meninas em função do machismo e do capitalismo. Não quero um mundo onde princípios externos e ultrapassados destruam a integridade das pessoas em razão de seus gêneros, bem como dos casamentos que decidam viver ou ainda das mudanças que entendam e concebam necessárias em seus e somente seus corpos. Não quero religiosos se afrontando pelo fato de cada seguimento ter a própria trilha para chegar até a Divindade, nem discriminando os que adotaram o direito de não acreditar em nenhuma divindade. Não quero ouvir a desalentada fala das meninas que ainda acreditam que seus corpos não são bons o bastante, que precisam mudar radicalmente buscando um peso que jamais será delas. Quero que amem seus cabelos quando seus sonhos escorregarem dançando pelo tapete de cetim que escorre sobre seus ombros, mas que os amem também quando milhares de anéis e labirintos armazenarem as memórias e a força de sua ancestralidade negra, adornando as mais belas bocas e olhos que a Natureza esculpiu.

Quero um Estado Máximo que não se limite a defender embriões, mas que de fato e efetivamente tutele todos os direitos da criança que nasce. Que pare de prender e matar crianças pobres e negras a despeito de uma ordem que nunca chegou e nem chega. Quero que os presos tenham um julgamento digno e decente dentro do ordenamento Constitucional.

Quero que a fome e a miséria sejam amplamente enfrentadas pelos Poderes do Estado, uma vez que é em seu seio que elas nascem. Quero poder chamar esse Estado de mãe, para amá-lo como Pátria.

Que toda forma de arte seja reverenciada, visto que é alimento para a alma.

Que entendamos que todo amor é força de propulsão e toda luta pelo bem é sagrada.

Que a toalha branca da minha imensa mesa Kardecista não seja limítrofe quando eu quiser dançar na chuva sob os trovões gritando “Eparrey Oya” para Iansã, e que eu possa chama-la de “minha.” Que nas igrejas de Nossa Senhora eu ainda possa entrar descalça e chorar de joelhos, pois eu sou dela.

Que nenhum Amém sufoque nenhum Saravá. Que os santos católicos sejam respeitados com justeza, assim como os Orixás dos terreiros de solo também sagrado. Que a Bíblia continue no seu papel de evangelizar com amor respeitando o Livre Arbítrio das pessoas para seguirem com as suas buscas verdadeiramente desejadas, com menos dogmas e mais ternura.

Que permaneça entre nós a Paz que Buda, Gandhi e Mandela ensinaram e demonstraram. Mas que saibamos que ser da paz não significará em momento algum fugir da luta! E que a gente comemore o dia do Cristo Revolucionário, maior modelo e guia do planeta. E que a gente cuide e respeite o planeta escutando a Mãe Terra e a Força Feminina de Deus.    

                                          

                                             Célia Regina Motta

                                                    Bacharel em Direito e Licenciada em Letras

                                                     cmotta86@gmail.com

                                                                                                                       

                  

sábado, 11 de dezembro de 2021

Aula Cemiterial aos Alunos do Colégio Portinari


 No dia 14 de Outubro de 2021 fui convidada pelo Professor Doutor Edson Fernandes para uma explanação sobre dois túmulos históricos no Cemitério em Lençóis Paulista: o de Maria Francisca de Jesus e o da Família Maluf.

A Aula Cemiterial foi ministrada pelo Professor Edson de notável saber histórico e cultural, aos alunos do Segundo Grau do Colégio Portinari. O assunto virou matéria no Jornal Pedra de Fogo.

Com muita alegria e lisonja participei dessa aula incrível com esse historiador e escritor que tanto admiro. Edson está desenvolvendo outros projetos acerca desse tema.

Esperamos por mais novidades em breve!


Célia Regina Motta

guardiadelendas.blogspot,com

A HISTÓRIA SEM A SUA GLÓRIA

 

A História Sem A Sua Glória

Há um nome do qual todos nós somos devedores.

Há um nome ao qual cedo ou tarde o poder público terá de revolver das sombras e elevá-lo ao cume da luz.

Cume da glória é o destino da gloriosa Professora Cecília Marins Bosi. Cabe aqui uma correção: não é um nome, é sim e antes, o nome mais ilustre de nossas paisagens dispersas sobre o tempo e sobre o espaço. A dignidade personificada em pioneirismo. A personalidade educadora por essência e por excelência.

Lecionando no Distrito antes mesmo da construção do grupo escolar, formou aqui gerações e gerações de guedenses que ainda reclamam e relembram o seu legado. A benemérita educadora teve o seu nome relegado ao esquecimento em razão da municipalização de nossa escola.

Evidentemente, o nome que a substitui não é nem menos digno e nem menos tradicional. Não, ao contrário, é um nome que ainda perdura em grande parte de sua descendência que aqui vive. Não menos memorável. Não menos merecedor de estima e consideração de nossa parte. Absolutamente, não é disso que se trata. Dona Philomena Briquesi Boso fez por merecer a justa homenagem da imortalidade, adentrando o terreno do resgate das memórias mais caras, é bom que se diga.

O que não foi digno, nem merecedor de respeito ou consideração, e muito menos justo, foi o posicionamento dos poderes que à época da municipalização da escola baniram a mais brilhante memória da história do Distrito. A distinta precursora da mais importante luta que é a Educação teve vilipendiado o seu nome e diminuídas as suas obras.

A Educação é o manto que leva sob si todas as vocações, incluindo a Ciência e a própria História. E o manto foi maculado. No lugar dos ombros dessa visionária, abriram uma ferida que não cicatriza. Que não cicatriza inclusive em nós. A mulher  que se doou em sacerdócio abraçando a total ausência de recursos educacionais e pedagógicos, para fazer valer o seu ideal de expansão do saber, após ocupar o seu pedestal legítimo de louvores e reconhecimento, foi relegada ao apagamento.

Isso, senhores, gostem ou não, um dia terá de ser reparado.

Será que o Distrito supostamente potencial em história e cultura, pertencente ao Município da futura Lençóis turística, não comportaria em seu Memorial nenhuma sala com os pertences e mobiliário original da escola?

Será que a Praça do Bom Jesus não agregaria de modo muito peculiar um busto com a biografia dessa excelsa mulher?

Ou o próprio Memorial, não poderia carregar a honra e a robustez do nome ímpar de Cecília Marins Bosi, Sacerdotisa da Educação?

Estamos em débito com a Professora Cecília. Estamos em vergonhoso débito para com a sua descendência e é urgente tal reparação.

                                                                                           

                                                                                                               Célia Regina Motta.