terça-feira, 20 de março de 2018

Para pensar...


Pairando entre o estarrecedor e o imprescindível, entretanto o mais necessário lembrete para nós, povo da nossa estranha nação. Só a verdade liberta. Só o conhecimento transforma. Só a coragem constrói.

 Reverenciando tantas Marieles, tantos Ulisses, tantos Juscelinos, Eduardos, Jangos e Tancredos. Gente que viveu para as coletividades. Gente que morreu, sempre sem convincente explicação, por amor a sua gente. Gente, que pela sua conduta e atitude diferenciada, tornou-se imortalizada. Além, é claro, daqueles que viveram e morreram no anonimato, desafiando os poderes sordidamente estabelecidos, com a ousadia no peito e o fogo nos olhos, queimando sempre para o Bem. Gente que contrariou a ordem em desordem.
Raros e insuperáveis, cada um a seu modo.
Insubstituíveis em sua área de ação.
Donos de legados de raça e emoção.
Corajosos e virtuosos, em extinção...

E o pior de tudo, é perceber ao final, que a gente sempre soube de tudo isso, desde sempre.
Já que sabemos, que não nos falte a atitude e o comprometimento.



                                                                                            guardiadelendas.blogspot.com
                                                                                            Célia Motta.

quinta-feira, 15 de março de 2018

"Fábrica de Violas"



Pouquíssima gente sabe, mas em nossas imediações, entre o final da década de 20 e o início da década de 30, havia no Sítio São Vicente, um fabricante de violas.
As informações e a viola, são do nosso constante colaborador, colecionador de histórias interessantes e fatos intrigantes, João Grego.
João descende de Antonio Moraes, o fabricante de violas. Segundo joão Grego, o seu tio Antonio, colocava um guizo de cobra cascavel dentro de cada viola.
O detalhe, é que Antonio Moraes, retirava o guizo sem matar a cobra. Com o coração e as mãos de artista, já se preocupava com a conservação da natureza e os seus sagrados seres.
O guizo de cobra cascavel, colocado no bojo da viola, segundo a tradição caipira, melhora o som anulando a vibração. Entretanto, também é da tradição caipira e da cultura dos violeiros, a crença na proteção  contra o mal, quando se carrega o guizo dentro da viola, durante as toadas.
Serviria ainda, a presença do guizo, para emanar de si, a mesma destreza e agilidade da natureza das serpentes, contagiando a alma, e se manifestando nos dedos do violeiro, enfeitiçando assim as suas melodias, que se tornariam encantadas.
Agora o mais tocante de tudo isso, é que naqueles dias dos anos 20, o ponto que o nosso mago fabricante escolheu para vender as suas violas artesanais, foi a Estação de Trem do distrito de Alfredo Guedes.
E assim, dedilhando as cordas do sedutor instrumento, impregnando de musicalidade e feitiço as paredes vivas de nossa estação, vendia as suas violas, o artista artesão, embalando os caminhares das moças, Antonio Moraes, tio de João!



Antonio não teve filhos. Casou-se com Brasilina Vieira Bueno, irmã de dona Francisca Vieira Portes avó de João Grego.Seu legado, a sua arte e o acervo de histórias deixado para João. Bonito que chega a doer...

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                                                                                                            Célia Motta.

terça-feira, 6 de março de 2018

"UNIVERSO FEMININO" / SOBRE O DIA 08 DE MARÇO

Quando vem se aproximando o Dia Internacional da Mulher, como mulher, tenho a obrigação de repetir um antigo texto, já escrito por mim, sobre as mulheres e tudo o que se camufla atrás dessa data comemorativa.
Como negra, tenho a obrigação com toda a minha ascendência ancestral, de bradar aos ventos, que conosco, ainda é mais difícil exercer a cidadania com total integridade.
Como alguém que sempre viveu a liberdade em sua plenitude, sem tabus, sem regras impostas, sem amarras religiosas, sem pais repressores, sem hipocrisia e sem falsos moralismos, devo bradar que ainda estamos gritando e deixando que o vento carregue os ecos de nossas vozes, ainda tão presas pelas instituições conservadoras. Devo delatar o pano de fundo e os porões dessa festa, ainda vã.
Não queremos a cultura tola, rasa e infrutífera, que nos transforma em bonecas teleguiadas, onde se desconsideram os nossos ideais mais intensos, de raízes mais profundas e se exaltam corpos que envelhecerão, sustentando uma cabeça sem legado.
Não queremos mitos imbecis e sem idéias inteligentes! Queremos gente!
Gente que carrega verdade e valores, princípios e sentimentos nobres!
Não queremos essa mídia que nos "coisifica" em relação ao homem, que nos subjuga e julga!
Exigimos respeito pois somos pessoas!
A torpeza nas falas de uma de nós, justificando um estupro ou um caso asqueroso de pedofilia, sobre a conduta liberal de muitas de nós, ou sobre as respostas físicas de um corpo infantil e um cérebro imaturo, nos enoja e envergonha a nossa casta.
A rudeza do machismo que brota em áridos desertos da alma, seja calcado numa sociedade demagoga ou em dogmas ignóbeis sem fundamento prático, descontextualizados da nossa realidade, desperta a nossa repulsa!
Eu, desconheço seres mais belos e profundos do que a face feminina do Criador: a mulher!
Mas ainda não entendo a troca de votos comemorativos, quando ainda escravizam a minha cor! Quando ainda esperam uma mudança de meus cabelos! Quando me estabelecem um modelo e um peso padrão! Quando ainda pensam ser possível limitar os meus atos! Quando querem me submeter a um rótulo! Quando recebo menos que o meu parceiro por um mesmo trabalho! Quando tenho uma sobrecarga de tarefas domésticas, por ser mulher! Quando se exige que a menina se porte de modo tímido em relação ao menino! Quando ouço:"Ah; mas ele é homem"! Quando renegam a beleza dos ciclos da menstruação! Quando negam a poesia da amamentação!
Quando uma mulher que sofre violência, passa de vítima a algoz de si mesma! Quando um pedófilo é apoiado por uma fêmea, seja ela mãe ou companheira!
Quando escuto que o aborto é praticado somente pela mãe! Quando escuto que somente a mãe abandonou o seu rebento ao relento!
Quando o filho é só da mãe!
Mentiras covardes estruturadas sobre padrões bíblicos, inúteis ao nosso tempo! Fantasmas sombrios de imbecilidade  do passado distante, que transforma em bruxaria as nossas artes de amantes...
Que as labaredas do fogo das medievais fogueiras, que já nos queimaram cruelmente, destruam tamanhas correntes!
Que o vento carregue as suas cinzas dementes!
Para sempre...
Que vença a tolerância, que viva o diferente.
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                                                                                       Célia Motta.
                                             
                                         Célia Motta
                           

QUE SE FAÇA DENTRO DE CADA UMA DE NÓS, A REFLEXÃO DO QUE REPRESENTA O DIA INTERNACIONAL DA MULHER, E COMO VIVEM DE FATO AS MULHERES NO COTIDIANO. BUSQUEMOS A IGUALDADE!
QUE NÃO PERCAMOS DE VISTA O QUANTO HÁ PARA COMEMORAR, MAS PRINCIPALMENTE, TUDO O QUE AINDA ESTÁ AÍ PARA SER MUDADO.
QUE NÃO ABANDONEMOS A LINHA DE FRENTE DO BOM COMBATE A SER PROTAGONIZADA POR NÓS, MULHERES.
QUE NÃO NOS FALTE GRAÇA, GANAS E GARRAS.
QUE A MANSIDÃO E A DELICADEZA JAMAIS SEJAM OMISSÃO E CONFORMISMO.
QUE NÃO NOS BASTE A HOMENAGEM, MAS SIM O RECONHECIMENTO, A PLENA CIDADANIA, E A LIBERDADE.
QUE AS NOSSAS ANCESTRAIS NOS ABENÇOEM E NOS INSPIREM!
QUE RESSURJAM EM NÓS, DE DENTRO PARA FORA, BROTANDO JARDINS DE FORÇA E DE LUZ.
QUE A NOSSA RESPOSTA AOS DESMANDOS E ÀS FOGUEIRAS DO PASSADO, ÀS HUMILHAÇÕES E À VIOLÊNCIA, À EXPLORAÇÃO E À EXCLUSÃO SOB AS DIVERSAS FORMAS, À SOBRECARGA DE TAREFAS DOMÉSTICAS DO DIA A DIA; SEJA O NOSSO SORRISO E AS NOSSAS AÇÕES ERGUENDO-SE PARA TODO O SEMPRE... 
SEJA A NOSSA CONTEMPLAÇÃO DA MÃE LUA A ILUMINAR A NOSSA INTUIÇÃO... A DESPEJAR BRILHO EM NOSSAS ATITUDES.
QUE AOS NOSSOS OLHOS DE AÇÚCAR, NUNCA FALTE O FOGO DO CONHECIMENTO E DA SABEDORIA.
E QUE NO FUTURO, NÓS TENHAMOS MAIS E MAIS MOTIVOS EFETIVOS E CONCRETOS, PARA COMEMORAR O NOSSO DIA!
                                                                                          guardiadelendas.blogspot.com
                                                                                          Célia Motta








quinta-feira, 1 de março de 2018

"Musicistas do Tempo"

Essa belezura de fotografia, carrega perfumes que eu ainda não soube definir.
Carrega traços de uma poesia esquecida no fundo de uma gaveta que perdeu-se no tempo e no espaço. Carrega a força feminina da fertilidade... creio que seja a parte feminina de Deus, o seu olhar feminino mirado pela Mãe da Sabedoria, um braço afável e manso que tudo acolhe.
Carrega traços de uma formosura indefinível, que escorrega aqui e acolá, alternando o sábio e o imprudente, o resignado e o vidente, o sagrado e o profano, o sóbrio e o insano.
Deusa mãe e benfeitora, intelectual e protetora! Santificada força Criadora!
São as meninas de Anália.
Anália bela, Anália esperança, deixando sóis e sóis entrarem por janelas por ela abertas...
Anália também criança, fertilidade de alma, encantamento e bonança...
Carrega também, traças multiplicadas pelo passar das tantas e tantas horas...
Poeira fina faz névoa em minha visão, mas pulsam todas as verdades antigas em cada retumbar do coração... levante da história em cada resgate e em cada lapidação!
Misterioso garimpo em forma de musicalidade... notas entoando emoção.
Espelhos quebrados em penteadeiras de época, ainda guardam os reflexos das moças ajeitando os longos cabelos, pintando lábios de fresca carne.
Mas o vento que tudo leva, despenteia seus cabelos, descolore a sua pintura, empalidece sua pele... as traças roem suas vestes... se vão para muito longe, embaladas pela aguda voz do vento... Em lugares longínquos sentem o perfume do último vidro evaporado sobre a penteadeira! É esse o perfume!
Eu chamo por elas, grito por cada nome de mulher, peço a força da Mãe Lua.
E aqui elas regressam, retornam de cada reduto mágico escondido pois a Vida não cessa!
E com elas ressurge Anália, regente de vidas... Eterna...
E cada moça com o seu instrumento na mão... é a música que recomeça!
                                                                           
                                                                                  guardiadelendas.blogspot.com
                                                                                   Célia Motta.

"Semeadura"

Eu falo dessa gente que carrega o bom gosto no sangue, a arte nos olhos e a cultura na alma.
Eu falo dessa raça, que não são muitos os que herdam, dessa força traduzida nos resultados e na música que rege os seus dias.
Falo dessa gente que tem a história como pão e transpiração.
Falo dessa gente que fazia Alfredo Guedes bailar no salão de cada coração.
Falo das peças de teatro ao ar livre!
Falo das exposições no Memorial Alfredo Guedes!
Falo dos discursos elaborados, em que se via não a inauguração, mas a semeadura do ponto de partida!
Falo de uma gente que percebeu as enormes perdas sofridas pelo Distrito, ao logo do tempo.
Falo de perdas econômicas e perdas históricas. Perda da memória dos ancestrais e perdas culturais.Falo daquilo que chamamos "garimpar... garimpar... garimpar...

                                                            Nilceu Bernardo, na abertura da Exposição Lençóis Viva, no                                                                   Memorial Alfredo Guedes. Dias de intensa programação                                                                         cultural... saudades...               
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                                                                                                              Célia Motta.