O Cristo Revolucionário
Eu quero um mundo de liberdade de escolhas, com pluralidade de crenças e ricos rituais. Com muitas cores. Cores de gente, cores de paisagens, cores de cabelos, cores de olhos, cores de bichos diversos. Quero tudo diverso. Com multiplicidade de infinitas raças e pessoas de todos os gêneros e de todos os pesos, de todas as medidas e todas as ideologias do Bem. Um Mundo com toda forma de amor e de sexualidade. Um mundo que seja belo por todas as diferenças que carrega. Um mundo sem rótulos e sem padrões preconcebidos.
Eu não quero um mundo em que o Cristo nasça
impreterivelmente todos os anos por milênios sem ter corações humanos em número
suficiente para germinar e florescer no útero da Mãe Terra. Não quero mais um
mundo que não perceba o Cristo nas selvas, e florestas. Não quero um mundo que
divida a criação em grupos e explore os animais, tão mais humanos do que nós.
Não quero um mundo que insista em embranquecer o Cristo e azular os seus olhos.
Não quero um mundo em que a mãe desse Cristo sofra um apagamento histórico em
função das forças destrutivas do patriarcado. Não quero um mundo onde a
educação tradicional mutile a sexualidade das meninas em função do machismo e
do capitalismo. Não quero um mundo onde princípios externos e ultrapassados
destruam a integridade das pessoas em razão de seus gêneros, bem como dos
casamentos que decidam viver ou ainda das mudanças que entendam e concebam
necessárias em seus e somente seus corpos. Não quero religiosos se afrontando
pelo fato de cada seguimento ter a própria trilha para chegar até a Divindade,
nem discriminando os que adotaram o direito de não acreditar em nenhuma
divindade. Não quero ouvir a desalentada fala das meninas que ainda acreditam
que seus corpos não são bons o bastante, que precisam mudar radicalmente
buscando um peso que jamais será delas. Quero que amem seus cabelos quando seus
sonhos escorregarem dançando pelo tapete de cetim que escorre sobre seus
ombros, mas que os amem também quando milhares de anéis e labirintos
armazenarem as memórias e a força de sua ancestralidade negra, adornando as
mais belas bocas e olhos que a Natureza esculpiu.
Quero um
Estado Máximo que não se limite a defender embriões, mas que de fato e
efetivamente tutele todos os direitos da criança que nasce. Que pare de prender
e matar crianças pobres e negras a despeito de uma ordem que nunca chegou e nem
chega. Quero que os presos tenham um julgamento digno e decente dentro do
ordenamento Constitucional.
Quero que a
fome e a miséria sejam amplamente enfrentadas pelos Poderes do Estado, uma vez
que é em seu seio que elas nascem. Quero poder chamar esse Estado de mãe, para
amá-lo como Pátria.
Que toda
forma de arte seja reverenciada, visto que é alimento para a alma.
Que entendamos
que todo amor é força de propulsão e toda luta pelo bem é sagrada.
Que a toalha
branca da minha imensa mesa Kardecista não seja limítrofe quando eu quiser
dançar na chuva sob os trovões gritando “Eparrey Oya” para Iansã, e que eu
possa chama-la de “minha.” Que nas igrejas de Nossa Senhora eu ainda possa entrar
descalça e chorar de joelhos, pois eu sou dela.
Que nenhum
Amém sufoque nenhum Saravá. Que os santos católicos sejam respeitados com
justeza, assim como os Orixás dos terreiros de solo também sagrado. Que a
Bíblia continue no seu papel de evangelizar com amor respeitando o Livre
Arbítrio das pessoas para seguirem com as suas buscas verdadeiramente desejadas,
com menos dogmas e mais ternura.
Que permaneça
entre nós a Paz que Buda, Gandhi e Mandela ensinaram e demonstraram. Mas que
saibamos que ser da paz não significará em momento algum fugir da luta! E que a
gente comemore o dia do Cristo Revolucionário, maior modelo e guia do planeta.
E que a gente cuide e respeite o planeta escutando a Mãe Terra e a Força
Feminina de Deus.
Célia Regina Motta
Bacharel em Direito e Licenciada em Letras
cmotta86@gmail.com