MARAVILHOSO COMO AS PESSOAS QUE NOS RODEIAM EM TENRA IDADE
NOS MARCAM E NOS CARACTERIZAM... CONSTROEM OS PILARES DE NOSSA MAIS PROFUNDA
IDENTIDADE!
NAS ÚLTIMAS NOITES
TENHO DIVAGADO, E DIRIA ATÉ QUE TENHO VAGADO POR CERTOS ESPAÇOS NO TEMPO E NA
ALMA, ESCONDERIJOS COM PEQUENAS LUZES FOSCAS E AMARELADAS, ESPALHADAS PELOS
CANTOS... DAQUILO QUE CONSIGO CAPTAR DE FATO, TUDO SE PINTA EM MARROM E
DOURADO. CORES DESBOTADAS PELO TEMPO, PÉTALAS DE ROSAS RESSECADAS PELO
CONSTANTE CAMINHAR DOS PONTEIROS DO VELHO RELÓGIO QUE MEU AVÔ RELIGIOSAMENTE
ACERTAVA TODOS OS DIAS COM A PEQUENINA CHAVE. ALI SOBRE A CADEIRA, AQUELE
HOMEM DE AR AUSTERO, FIRME E CHEIO DE HISTÓRIAS, CASOS E CAUSOS, AINDA ESTÁ A
ACERTAR OS PONTEIROS DO SEU TEMPO. A MADEIRA DO CHÃO ESTALA QUANDO ELE DESCE
E CAMINHA DOIS OU TRÊS PASSOS, A PARAR NA PORTA E ASSISTIR UM POUCO DO
NOTICIÁRIO DA TV EM PÉ.
SEMPRE FAZIA ISSO...
E O VEJO LÁ...AGORA.
BATIDAS NA PORTA DA
FRENTE ANUNCIAM O MOMENTO MAIS ESPERADO DURANTE TODO O DIA: NADIR ESTÁ
CHEGANDO. FICARÁ CONOSCO ATÉ ALTÍSSIMAS HORAS ESPERANDO ELIZEU, SEU MARIDO E MEU TIO INESQUECÍVEL, QUE CHEGARÁ DE
TREM!
TIOS QUERIDOS E
INSUBSTITUÍVEIS! ELA, A BELA MULHER DA FOTO EM PRETO E BRANCO, IRMÃ DE MINHA
MÃE, E ELE, SEU MARIDO TELEGRAFISTA, METICULOSO, MINUCIOSO E ÀS VEZES
INCOMPREENDIDO POR ALGUNS. QUERIDO POR MIM, QUE SEMPRE ENCONTREI NELE UM
ESPÍRITO AMIGO E COMPANHEIRO DE TODA E QUALQUER HORA. MEU CONFIDENTE DA VIDA
ADULTA!
DURANTE TODO O DIA EU
ESPERAVA PELA CHEGADA DE NADIR À NOITE. PRESENÇA QUE FAZIA FESTA EM NOSSA
CASA.
MADRINHA (MINHA AVÓ),
A PREPARAR CAFÉ E LEITE ADOÇADO. MINHA MÃE CUIDANDO DO JANTAR DE MEU PAI E TIA
EDITHE TODA MEIGA E DOCE COM TODOS ALI... SEMPRE...
EU VIA EM NADIR ALGO
MUITO DIFERENTE DO COMUM... ACREDITAVA QUE ELA TINHA ESPÍRITO DE ARTISTA,
SEMPRE BONITA E ANIMADA, BEM HUMORADA, DESENHAVA COM PERFEIÇÃO, ME DAVA IDÉIAS
PARA FAZER FANTASIAS PARA AS MATINÊS DE CARNAVAL, PARA AS APRESENTAÇÕES DE
DANÇA DA ESCOLA. SIGO VAGANDO, VENDO E OUVINDO TUDO ISSO!
HAVIA UM SOFÁ-CAMA NA
SALA DE TV, VERMELHO E ALI NÓS NOS DEITÁVAMOS PARA ASSISTIR ALGO QUE NÃO
TINHA A MENOR IMPORTÂNCIA PARA MIM, QUEM EU QUERIA ESTAVA DEITADA ALI COMIGO!
ENVOLVIDA NUM ROUPÃO ACOLCHOADO PEGAVA UM PUNHADO DE BALAS DE MENTA E
DISTRIBUÍA.
Ana Lourenço da Silva
VEZ OU OUTRA, ANA LOURENÇO, MINHA TIA AVÓ, TAMBÉM VINHA PASSAR AQUELAS HORAS
MÁGICAS CONOSCO. QUANDO VINHA, TRAZIA PEQUENOS PÃES FEITOS POR ELA,
CUIDADOSAMENTE EMBRULHADOS EM GUARDANAPOS BRANCOS. SÉRIA COMO MEU AVÔ, SOMENTE
ESBOÇAVA ALGUNS SORRISOS ENQUANTO NÓS NOS PERDÍAMOS EM CONSTRUTORA ALGAZARRA. E A ALEGRIA DISPERSAVA-SE PELA CASA.
APAGÁVAMOS AS LUZES E
NADIR COMEÇAVA, COM AS MÃOS, A CRIAR IMAGENS QUE SE MOVIMENTAVAM NAS PAREDES.
O RELÓGIO CONTINUA A
ADENTRAR O TEMPO FUTURO, MAS AS LUZES AMARELADAS E ENVELHECIDAS DOS CANTOS DE
MINHA ALMA, CONTINUAM ME ARRASTANDO VELOZMENTE PARA O PASSADO. TODAS AS CORES
ESTÃO DESBOTADAS... APARECEM VULTOS... QUERO CONTINUAR ALI... O SABOR DO LEITE
QUE MADRINHA PREPARARA PRA NÓS ME FAZ ASSENTAR A ALMA EM VIAGEM, POR MAIS
ALGUNS MINUTOS... SAUDADES INTENSAS ME DIZEM NOS OUVIDOS QUE DEVO FICAR UM
POUCO MAIS E ESPERAR ELIZEU.
PADRINHO, JÁ BRAVO
COM A BALBÚRDIA DAS CORRERIAS PELA SALA! AS RISADAS ALTAS E SOLTAS RESSOAM PELA
CASA. A CRISTALEIRA VIBRA NO CHÃO DA SALA E O VELHO RELÓGIO AMEAÇA O FIM
DE MINHAS FELIZES HORAS. AS FIGURAS CONTINUAM A DANÇAR NAS PAREDES NUM BONITO
JOGO DE LUZ E SOMBRAS E PASSEIAM DENTRO DE MIM. APESAR DO FRIO, SINTO
SOMENTE O CONFORTO DE ESTAR DENTRO DO CASTELO DE MEUS SONHOS INFANTIS, A
SEGURANÇA DAQUELAS VOZES QUE SEI QUE ME ACOMPANHAM HÁ MILHARES DE ANOS. MINHA
MÃE!!!
AH! O INCESSANTE
CAMINHAR DOS PONTEIROS DO VELHO RELÓGIO. OUVE-SE O APITO ESTRIDENTE DO
TREM E EM ALGUNS MINUTOS ELIZEU ESTARÁ CHEGANDO.
ELE ENTRA NA CASA, COLOCA SUA MALETA DE TRABALHO SOBRE A MESA DA SALA DO MEIO, E SEGUE O CHEIRO
BOM DO CAFÉ NOTURNO DE MINHA MADRINHA, O AROMA DOS PÃES DE ANA LOURENÇO.
E A MENINA QUE
NAQUELE MOMENTO HABITA EM MIM, COMEÇA A ENTRITECER-SE... NADIR VAI EMBORA...
QUERO QUE FIQUE... QUERO FICAR TAMBÉM NA ESCURIDÃO QUEBRADA PELO AMARELADO DAS
PEQUENAS LUZES... O TÚNEL COMEÇA A FORMAR-SE NOVAMENTE PARA QUE EU VAGUE NO
CAMINHO DE VOLTA... SOU CRIANÇA, NÃO QUERO ACEITAR... QUERO MINHAS EMOÇÕES
DAQUELE MOMENTO, A SALA DAS ARTES DE NADIR, AS RAÍZES DA VELHA CASA, A MADEIRA
QUE ESTALA E FALA COMIGO... ME CONTA SEGREDOS...A CONVERSA DE MINHA MÃE E MEUS
PADRINHOS, O SORRISO INOCENTE DE EDITHE... COM ESFORÇO AJUDADO POR SERES
MAIORES, ACOMPANHO ANA LOURENÇO, QUE É A PRIMEIRA QUE SAI DE CENA. MEU AVÔ
RECOLHE-SE. EDITHE SE ESVAI EM VAPOROSA FRAGRÂNCIA DE GUARDADOS E
RECORDAÇÕES. E DEIXA UMA NUVEM CHEIRANDO A "CASHEMIRE BOUQUET" . MEU PAI DESAPARECE EM SEU LARGO SORRISO. MINHA AVÓ... MINHA
AVÓ ME ABRAÇA E COM ELA SE VÃO ALGUMAS DAS LUZES AMARELAS. MINHA MÃE SEGURA
MINHA MÃO COM SUA SABEDORIA DISCRETA, E ME LEVA ATÉ A PORTA PARA DESPEDIR-ME DE
NADIR E ELIZEU. A ESCURIDÃO ATRÁS DE NÓS ME MOSTRA INSISTENTEMENTE O TÚNEL DO
TEMPO PRESENTE, E APENAS O CAMINHAR DOS PONTEIROS SE FAZ OUVIR INCESSANTEMENTE
NA SALA QUE VAI FICANDO PARA TRÁS!
GIRO O TRINCO DE
MADEIRA COM FORMAS ARREDONDADAS E PERGUNTO A NADIR E ELIZEU SE VOLTARÃO NA
NOITE SEGUINTE.
Nadir Lourenço dos Santos e Elizeu dos Santos.
O VENTO FRIO AUMENTA LÁ FORA E GELA MINHA BOCA INTENSIFICANDO
A MENTA DAS BALAS. NADIR PROMETE VOLTAR.
OLHANDO OS OLHOS
SURREAIS DE MINHA MÃE, ME ACALMO NA CERTEZA DE QUE NADIR VOLTARÁ! VOLTARÁ
SEMPRE... E PELAS RUAS DE PARALELEPÍPEDOS OUÇO O DESAPARECER DE SEUS PASSOS
ETÉREOS.
VOLTO PARA O TÚNEL,
NA SALA JÁ NÃO HÁ MAIS AS LUZES AMARELAS, NEM O CHEIRO DO CAFÉ E LEITE
ADOÇADO... SOMENTE UM ECO DE VOZES DESAPARECENDO NA ESCURIDÃO... SINTO AS MÃOS
DE MINHA MÃE NAS MINHAS MÃOS... VAGO DE VOLTA E VIAJO ENTRE VULTOS E CLARÕES
QUE NÃO CONSIGO DECIFRAR... JÁ NÃO OUÇO O RELÓGIO DE CAMINHAR TEIMOSO...O
RELÓGIO ESTÁ PARADO, ME ESPERANDO VOLTAR NO TEMPO E NO ESPAÇO, RASGADO PELO
TÚNEL.
VOLTO COM A CERTEZA
DE OUTRAS VIAGENS E EM PLENA SINTONIA COM O CARÁTER CÍCLICO DA ETERNIDADE,
COM A JUSTA TRANSITORIEDADE DA VIDA, COM O RENASCER CONSTANTE DAS ALMAS.
ARTES DE NADIR...
PONTEIROS DO TEMPO... LUZES DAS ALMAS...
CÉLIA MOTTA guardiadelendas.blogspot.com
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