O BELO MOÇO, É JOSÉ LOURENÇO DA SILVA.
CONTAVA PARA NÓS, OS
SEUS NETOS, QUE NA JUVENTUDE CONHECERA UMA BELA JOVEM PELA QUAL FORA TOMADO DE
AMORES POR TODA A SUA VIDA: DONA COTA.
BELA, GRACIOSA E MUITO
BEM RESOLVIDA.
CORRIAM OS ANOS FINAIS DA DÉCADA DE 1910, E ELES
APAIXONARAM-SE DE MODO QUE ELE NUNCA MAIS SE ESQUECEU DELA, APESAR DO
CASAMENTO, DAS FILHAS E NETOS! O AMOR É MESMO ASSIM: INSTALA-SE!
NA COMOVENTE E TERNA
MANEIRA DOS NAMOROS ANTIGOS, DONA COTA RECITARA UNS VERSOS PARA O JOVEM JOSÉ.
VERSOS DE PROMESSA, DE PAIXÃO, DE SEDUTORA ENTREGA EMOCIONAL AO BELO JOSÉ!
O TEMPO PASSOU, A
VIDA SEGUIU SEU CURSO, ELE CASOU-SE COM OUTRA MOÇA, ELA CASOU-SE COM OUTRO
RAPAZ. MAS O CORAÇÃO DELE AINDA CONTINUAVA DELA! AINDA PERFUMADO PELO AROMA DO
ALECRIM, PELO FRESCOR ORVALHADO DO VENTO TRÊMULO DA BEIRA D'ÁGUA, DA
SENSUALIDADE PROMETIDA POR SEUS BEIJOS, DO PACTO EMBALADO POR ROMANCE E DESEJO.
DA JANELA DE SUA CASA, A BELA MOCINHA DECLAMARA OS VERSOS,
FAZENDO CADA PALAVRA ECOAR PELOS CAMPOS, FAZENDO TREMER A ALMA DE JOSÉ! FAZENDO
DESMANCHAR-SE SEU CORPO E A BELA MENINA COTA, PERDIDA EM DELEITES E DEVANEIOS A
DERRETER-SE, ASSIM APODEROU-SE DA ALMA DE JOSÉ:
"" Alecrim verde firmeza
Que do meu peito
nasceu
Tu podes achar quem
te ame
Mas não firme como
eu!
Alecrim da beira d'água
De onde o vento está
tremendo
Um beijo de tua boca
Da vida de quem está
morrendo
Se eu tiver de ser tua
E tu tiveres de ser
meu
Ainda que me
arrependa
Morrerei nos braços
teus!""
MEU AVÔ SE FOI EM DEZEMBRO DE 1990.
EM 24 DE MARÇO
DAQUELE ANO DE 1990, ÀS 19 HORAS, PELA CENTÉSIMA VEZ, ELE NOS CONTAVA ESSA
HISTÓRIA DE AMOR ETERNO NO ACONCHEGO DE SUA CASA.
E EU NA MINHA
EXPLOSÃO DE MENINA EM MULHER, PEDI A ELE QUE ME DITASSE O PEQUENO POEMA PARA
QUE EU PUDESSE GUARDA-LO, COMPONDO O ACERVO PESSOAL DA FAMÍLIA... NAQUELA ÉPOCA
EU NEM SUPUNHA QUE UM DIA TERIA UM ESPAÇO PARA RESGATAR HISTÓRIAS, LENDAS E
PERSONAGENS DE NOSSA AMADA ALFREDO GUEDES. ELE JÁ TINHA QUASE 95 ANOS E REVIVIA
ESSA MAGIA COM TODA A INTENSIDADE DO DIA EM QUE ACONTECEU. SUA ALMA, CARREGAVA
JUNTO DE SEUS INSTINTOS, TODA A DELICADEZA E A DOÇURA DE COTA. SEUS OLHOS IAM DESPEJANDO
SABEDORIA E ROMANCE NAQUELA CASA DE SONHOS. NAQUELA SALA, O SEU ANTIGO RELÓGIO DE PAREDE ASSISTIA À SUA EMOCIONADA DECLAMAÇÃO, MESCLANDO CERTA E INDEFINÍVEL MELODIA COM A MARCAÇÃO DOS SEUS TIC-TACS.
HOJE EM DIA, DEPOIS DE TODOS ESSES ANOS DE SUA PASSAGEM, QUANDO ESTOU EM CASA, ESPERO OS ÚLTIMOS CLARÕES DO CÉU PARA
IR ATÉ O POMAR DE VEGETAÇÃO DENSA. LÁ, EM DADO MOMENTO, AS SOMBRAS DANÇAM SOBRE OS ÚLTIMOS ROMPERES DAS LUZES, ENTÃO, COM A PEQUENA CLARIDADE AVERMELHADA DO SOL
DESPEDINDO-SE DO DIA, OS PRIMEIROS RASTROS DE ESCURIDÃO INVADEM TUDO À MINHA
VOLTA, FECHO OS OLHOS E REZO.
EM TREMORES E SOLUÇOS SINTO OS CHEIROS E AS
TEXTURAS ANTIGAS, OUÇO MEUS ANTEPASSADOS E ALI RESSURGEM MINHAS CERTEZAS,
RENOVA-SE MINHA ALMA. OUÇO SERES QUE NÃO VEJO, ENTRETANTO SEI QUE SOMOS VELHOS
CONHECIDOS. SERES QUE NOS GUARDAM HÁ TANTAS GERAÇÕES. PENSO EM ARTHUR, IRMÃO DE MEU AVÔ JOSÉ, REPLANTANDO ENXERTOS DE ÁRVORES PARA O POMAR, E O VEJO PERAMBULANDO NO GRANDE
MATO BANHADO DE MÍSTICAS ÁGUAS. SINTO O FRESCOR E A UMIDADE DAS SAMAMBAIAS E
AVENCAS DE ARTHUR, DERRAMANDO-SE NA TERRA FRIA, ESPERANDO A NOITE. VEJO MEUS
OLHOS EM MINHA BISAVÓ BRANDINA, MÃE DE MEU AVÔ, RECONHECENDO-ME PLENAMENTE NELA, MEU SANGUE A
CORRER NOS TEMPOS DESDE AS VEIAS DE BRANDINA. SINTO O PERFUME DO ALECRIM DE COTA E JOSÉ!
TREMO JUNTO COM O VENTO QUE AINDA VEM DA BEIRA D'ÁGUA E SEI QUE ALI ESTIVE COM
MEU VELHO AVÔ DE OLHOS SÁBIOS, EMOCIONADO A ME ABENÇOAR E RECITAR VERSOS DE AMOR SEM FIM.
QUANDO ADOECEU, ME
DISSE AINDA NOS HOSPITAL: "SEI QUE NÃO VOLTO, SINTO QUE ESTOU PARTINDO,
MAS CONTINUEM A VIDA DE VOCÊS COM TODA A BELEZA QUE ELA CARREGA, COMEMOREM A
VIDA E OS NATAIS. MAIS QUE TUDO, ESTEJAM SEMPRE CERTOS DE QUE NADA SE ACABA E TUDO É ETERNO”...
ABSORVI OS ENSINAMENTOS DE ETERNIDADE COM O MEU VELHO E SÁBIO AVÔ. O HOMEM AO QUAL EU AINDA PEÇO A BENÇÃO. O HOMEM
QUE POSSIBILITOU O MEU CAMINHAR E A MINHA VIDA CONCRETA.
ACREDITO E SEI QUE A MORTE É O EXATO LIMITE EM QUE TUDO
RECOMEÇA...
guardiadelendas.blogspot.com
Célia Motta.
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