FAZ DIAS QUE ALGO TREME EM MEU ÍNTIMO NAS MADRUGADAS... É
COMO SE OUVISSE ALGO SUTILMENTE DENTRO DE MINHA CABEÇA... É UM LEVE SOPRO...
MAS INTENSO O BASTANTE PARA DESESTRUTURAR A MINHA ALMA, POR VEZES EM AFLIÇÕES E
DIÁLOGOS SECRETOS, COMIGO MESMA... COM MEUS ANCESTRAIS... E ENTRE SUORES E
MOVIMENTOS QUE AINDA NÃO COMPREENDO... ENTRE PRESENÇAS TÃO AFLITAS QUANTO EU
MESMA... NA VASTIDÃO DO AMOR
AINDA NÃO VIVIDO... LATENTE, PULSANTE, TURBULENTO! NAVEGANDO POR MARES DE ÁGUAS
TURBULENTAS... ACIMA DAS VONTADES CONCRETAS.
OBSERVO-ME EM MINHA
CAMA A CONTORCER-ME! ESTOU LIBERTA! CAMINHO EM BUSCA DE
ARTHUR LOURENÇO. TIO AVÔ RESSURGIDO DE INVISÍVEIS TRAÇOS NA MINHA MEMÓRIA...
PARECIDO COMIGO EM
SUAS FUGAS! PARECIDO COMIGO EM SUAS BUSCAS! PARECIDO COMIGO NO QUE GUARDA EM
SEUS OLHOS... OLHOS DE ROMANCE. AFLIÇÕES DOS DESEJOS QUE A ALMA GUARDA E
RECOLHE... A ESPERAR A EXPLOSÃO... ANSIEDADE!
EM MOMENTOS ASSIM,
CECÍLIA MEIRELES PASSEIA POR MIM... DENTRO E FORA... NUM ENTRA E SAI CONSTANTE
A LEMBRAR-ME DE ALGO FUNDAMENTAL PARA MINHA LINHAGEM DE SANGUE INDIO: "... ADESTREI-ME
COM O VENTO E MINHA FESTA É A TEMPESTADE".
FOI ASSIM COM CADA UM
DE NÓS... A CADA GERAÇÃO QUE ME ANTECEDEU!
PARECIDOS NA AFRONTA
E SEMPRE FORA DOS PADRÕES!
RELUTANTES EM CONFORMAR-NOS.
SANGUE DE BUSCAS!
CONCEBIDOS EM FOGO E
LAPIDADOS NA PEDRA... DOR!
EMBEBIDOS EM
FANTASIAS E SEIVAS SUAVES... AMOR!
DEPURADOS NA
EMBRIAGUEZ DA ALMA... BRUXAS EM FUROR!
INEBRIADOS PELO MATO
E PELA CHUVA... LOUCURA!
PERFUMADOS EM ÁGUAS
DO PASSADO... ÊXTASE EM FLOR!
VEJO PARTÍCULAS DE
ARTHUR NA GRANDE MANGUEIRA SOBE A QUAL SENTAVA-SE COM PARTE DA FAMÍLIA PARA
DEGUSTAR BANANAS...NAQUELE SANATÓRIO DE DEMENTES EM DURA ESPERA! ALMA DE MINHA ALMA A
GRITAR POR MIM... CONSIGO OUVI-LO AGORA...
POR DEUS! EU O AMO
TANTO! QUERO QUE CONSIGA OUVIR MEU CORAÇÃO GRITANDO ISSO!
PRESIDENTE PRUDENTE O
RECEBEU EM SEUS ÚLTIMOS TEMPOS. SOB A VELHA MANGUEIRA... QUIETO... PERFUMADO DE
FOLHAS JÁ SECAS E MORTAS... COM TODAS AS SOMBRAS DA BOA VISTA.
OLHANDO SEM VER! SEMPRE
ELEGANTE. UM GALANTEADOR RESGUARDADO. SENSUALIDADE VELADA! AINDA PROIBIDA!
SE FOI DO NOSSO
MEIO...
E VOLTOU PARA O VELHO
POMAR DE MEU AVÔ... REVIVE ONDE PLANTAVA... ONDE ENXERTAVA... AH! ALQUIMISTA
DAS PLANTAS!
VEREDAS QUE PARTEM
DOS ABACATEIROS, TRILHOS PELOS QUAIS PASSEAMOS JUNTOS ATÉ O VELHO CATETO ONDE
VIVEU... OUÇO SEUS PASSOS AO MEU LADO... SUA VOZ VIBRA DENTRO DE MIM. SUA
RESPIRAÇÃO NO MEU RITMO... DOIS PULSARES! SOMOS UM!
ABRAÇA-ME
LONGAMENTE...
E ME PEDE BEIJANDO AS
PALMAS DAS MINHAS DUAS MÃOS:
" VOCÊ JÁ ESTÁ
JÁ ADESTRADA POR TANTOS VENDAVAIS. AGORA FESTEJE NA TEMPESTADE QUE CHEGOU!
ELA É A SUA TEMPESTADE! A TEMPESTADE PELA QUAL VOCÊ PEDIU, IMPLOROU E ESPEROU!
VEIO DESTRUIR E RECONTRUIR O SEU SER! VEIO LHE TRAZER VIDA!"
E ASSIM RESTAURO TODO
O MEU SER NESSE ENCONTRO COM ARTHUR... E DIGO A ELE QUE O AMO, QUE SOMOS ALMAS
DE MESMA LINHAGEM. QUE SIM, APAIXONE-ME, NÃO ABRO MÃO... QUERO O SENTIMENTO E
NÃO MAIS A RAZÃO! QUE CONCEBEU-ME A TEMPESTADE! PARIU-ME O SEU ESTRONDO!
E POR FIM, DIGO
QUE SOMOS LOUCOS. E É NA NOSSA LOUCURA QUE CARREGAMOS A NOSSA SANTA
REDENÇÃO!
CÉLIA MOTTA